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Ele trocou o 'soccer' pelo futebol americano, brilha nos EUA e pode ser o próximo brasileiro na NFL 491rd

Rafael Gaglianone comemora vitória do Wisconsin Badgers na NCAA Getty Images

Cairo Santos se tornou em 2014 o primeiro e até hoje único brasileiro a atuar na NFL. Mesmo dispensado pelo Kansas City Chiefs no início da temporada, ele voltará a atuar na liga pelo Chicago Bears. Enquanto isso, o país pode se animar com a possibilidade de um novo atleta na principal liga de futebol americano do mundo.

Rafael Gaglianone é quem está mais próximo disso e poderia entrar na NFL em 2019, já que tem mais uma temporada na NCAA além desta. Aos 22 anos, o kicker paulista vive o sonho de jogar por uma das universidades mais tradicionais do futebol americano (Wisconsin Badgers), que está invicto após 11 jogos no ano, liderando a conferência Big Ten e tendo a melhor campanha do esporte universitário junto com Alabama.

Desde 2014 em Wisconsin, Gaglianone se transformou em um consistente kicker, com 78% (55 de 70) de acerto nos seus field goals na carreira, incluindo 11 de 13 em 2017.

Mas quem fica sabendo de sua história sabe o quão difícil, talvez até improvável, foi ele chegar até aqui.

Gaglianone foi trazido aos Estados Unidos ainda adolescente através de um programa de intercâmbio esportivo da “2SV”, empresa especializada no ramo que “recruta” brasileiros para os Estados Unidos. E ele queria ir para os EUA para jogar o futebol de bola redonda mesmo.

“Eu olhei a peneira e achei que ele estava um nível abaixo do futebol. Aí o pai insistiu e eu dei uma chance. No momento em que ele entrou, começou a se dedicar bastante. É uma história muito válida em relação à dedicação e comprometimento. Tudo é possível”, disse Ricardo Silveira, da 2SV, que acompanha a carreira de Gaglianone desde o início, ao ESPN.com.br.

Outra barreira impediu a continuação de Gaglianone no futebol: o peso. Mesmo nos dias de hoje, ele não tem o físico do típico kicker, pesando 105kg distribuídos por 1,80m, segundo sua ficha.

Mas em 2015 ele chegou a pesar 112kg como kicker dos Badgers. Mesmo assim, mantém número e eficiência excelentes nos seus chutes.

Mas em 2016, começou uma dieta. Seus pais o ensinaram a cozinhar salmão, tilápia e camarão. Ele parou de comer carboidratos depois das 16h e começou a beber água ao invés de refrigerante. “Obviamente não é a coisa mais fácil comer coisas que você não gosta de noite”, contou, à ESPN dos Estados Unidos.

“Depois do meu primeiro ano, eu estava acima do peso. Isso não é segredo. Todos podiam ver com as camisas justas. No ano ado (2015) eu escapei com as camisas mais largas. Então estava disposto a fazer tudo que me dissessem”, completou o brasileiro, que ficou abaixo dos 100kg em 2016.

Infelizmente uma lesão nas costas o fez ter apenas três aparições em 2016. E na sua ausência, os kickers de Wisconsin sofreram.

Mas ele deu a volta por cima e voltou a sua melhor forma dentro de campo nesta temporada, o que o faz sonhar com a NFL num futuro próximo.

“O sonho eu já estou vivendo, para falar a verdade. Ter a oportunidade de jogar diante de 80 mil pessoas já é especial. Estou muito grato, mas o foco é chegar na NFL”, disse, à reportagem.

2017 também foi um ano especial para o brasileiro porque ele chutou o seu field goal mais longo da carreira: 52 jardas contra Illinois em outubro. E curiosamente o feito veio meses depois de receber uns conselhos de Cairo Santos.

“Eu treinei com ele (Cairo) durante uma semana no verão (norte-americano). A gente se fala mais de chute, de técnica”, contou Gaglianone.

O brasileiro detém o recorde da faculdade de Wisconsin com 4 field goals para ganhar jogos e tem o terceiro melhor aproveitamento de chutes da história. Mesmo com a universidade sendo cotada para disputar o título da NCAA, ele prefere a cautela.

“Sempre tem essa pressão da mídia e essa conversa dos playoffs, de ficar entre os 4 melhores. A gente sabe que se não focar no próximo oponente vai estar em uma situação difícil para ganhar. A gente só foca no próximo time. Essa é a mentalidade para não se perder”.

Mas apesar do sucesso dentro de campo, Gaglianone diz que a faculdade é rígida nos estudos também.

“A maioria das faculdades de calibre forte os estudos vêm em primeiro lugar. O foco da faculdade é o estudo. Você sabe que viaja de sexta, você faz seu calendário de segunda a quinta. E tem bastante gente para te ajudar”.