O rebatedor faz um contato ruim. A bola sai rasteira e fraca em direção à segunda base. A eliminação é protocolar, e termina na luva do primeira base. Um primeira base brasileiro. Leonardo Reginatto pega a bola e corre para comemorar com os companheiros – entre eles o também brasileiro Tiago da Silva – do Tiburones de La Guaira (VEN). Era a confirmação de um título inédito. Pela primeira vez jogadores brasileiros conquistam a Série do Caribe. Um feito que coroa a temporada mais vitoriosa do beisebol do Brasil.
A campanha que teve mais repercussão foi a da Seleção, que levou a medalha de prata no beisebol dos Jogos Pan-Americanos de Santiago. Mas as conquistas continuaram com as ligas de inverno (o ponto de referência é o hemisfério norte). Foram cinco brasileiros conquistando títulos em quatro países diferentes, e dois deles repetiram a dose com o título regional.
Reginatto e Da Silva foram os grandes vencedores. Antes da Série do Caribe, uma espécie de Libertadores do beisebol, eles haviam ajudado os Tiburones a conquistar a LVBP, a liga venezuelana. Dois feitos históricos para o time de La Guaira, que nunca havia sido campeão caribenho e não ganhava sua liga doméstica desde 1986. O primeira base terminou a temporada na Venezuela com 46 corridas impulsionadas e 34,4% de aproveitamento no bastão. O arremessador chegou na reta final do campeonato, mas teve papel importante nos playoffs. Terminou a temporada com ERA de 3,31.
Outro brasileiro a se destacar na temporada caribenha, inclusive na Série do Caribe, foi Heitor Tokar. O arremessador fechou com os Federales de Chiriquí, do Panamá, para fazer parte do bullpen. O bom desempenho lhe valeu uma promoção à rotação durante a temporada, que terminou com título doméstico e uma vaga na competição continental.
Na Série do Caribe, os Federales acabaram na terceira posição, campanha surpreendente para uma equipe que entra com status de convidada. Tokar abriu dois jogos na competição, incluindo a disputa do terceiro lugar contra a forte seleção de Curaçao, composta por vários jogadores com experiência na MLB.
A Série do Caribe de 2024 só não teve um quarto brasileiro porque não houve acordo para a participação da Colômbia. Se houvesse, como ocorreu nas últimas temporadas, certamente Daniel Missaki estaria no elenco. O arremessador brilhou pelos Caimanes de Barranquilla na final da liga colombiana, fazendo um jogo completo com apenas uma rebatida cedida na partida que decidiu o título. Um desempenho que valeu ao brasileiro o título de MVP das finais.
This is 27yo Japanese-Brazilian RHP Daniel Missaki. 🇧🇷🇯🇵
— Shawn Spradling (@Shawn_Spradling) January 8, 2024
In last night's title-clinching Game 5 of the LPB Serie Final, he pitched a COMPLETE GAME SHUTOUT:
9 IP, 0 R, 1 H, 0 BB, 11 K
MVP of the game and series. 🇨🇴
His season totals:
50.2 IP, 0.89 ERA, 60K, 0 HR, .149 BAA pic.twitter.com/Q0HZ7yRTWa
O próprio Missaki se mostrou surpreso com o desempenho. “Depois de tantas cirurgias, eu não achava que conseguiria jogar novamente como abridor, muito menos jogar uma partida completa”, comentou. “Essa temporada foi muito importante para mim, com certeza mais oportunidades aparecerão pela frente.”
Foi a segunda grande conquista de Missaki na temporada, já que ele também fazia parte da seleção brasileira que ficou com a prata no Pan. Ele não foi o único a emendar medalha com um título nacional. O outro teve de atravessar o mundo para ser campeão.
Após o Pan, Oscar Nakaoshi acertou com o Adelaide Giants para atuar na Australian Baseball League. O arremessador, que fez carreira no Japão (onde chegou a atuar na NPB, a segunda liga mais importante do beisebol mundial), teve um grande desempenho saindo do bullpen, com ERA de 1,05 na temporada e participação importante na final contra o Perth Glory, entrando em todas as partidas sem ceder corrida.
No total, o Brasil começou a temporada de inverno com uma prata da seleção, e terminou um título de MVP de final, cinco campeões nacionais e dois campeões continentais. A medalha no Pan foi um símbolo dessa boa fase. A bola da última eliminação da Série do Caribe poderia ser outro. O artigo terminou na luva de Reginatto, mas o defensor interno não ficou com ela. Ele deixou com uma figura histórica do beisebol. “Eu entreguei para o Guillén”, conta, se referindo a Ozzie Guillén, técnico dos Tiburones e campeão da World Series de 2005 pelo Chicago White Sox. “Ele merece.”