Em um intervalo de apenas 10 dias, o Los Angeles Dodgers explodiu o mercado da MLB ao anunciar a contratação do jogador mais caro da história dos esportes americanos e do arremessador mais caro da história do beisebol. Shohei Ohtani e Yoshinobu Yamamoto chegaram para reforçar uma equipe que já tinha uma dinastia consolidada em sua divisão e que disputara todas as edições dos playoffs desde 2013. A imagem de supertime, favoritaço ao título, era óbvia.
10 meses depois, a expectativa se confirmou e o time californiano ergueu a taça após vencer o New York Yankees por 4 a 1 na World Series. O que a condição inicial de favorito e a realidade final do título não contam, porém, é como a trajetória foi conturbada. A ponto de muitos (incluindo o autor deste texto) duvidarem da capacidade dos Dodgers de desviar dos obstáculos – trocadilho proposital – para ar por todas as fases do mata-mata. Uma caminhada que parecia muito mais árdua que a de algumas temporadas recentes, em que os angelenos também entraram como favoritos e ficaram pelo caminho.
Os Dodgers se planejaram para estarem fortes em todas as áreas, mas a única que realmente respondeu ao longo de todo o ano foi o quarteto que abre a ordem de rebatedores. Salvo um ou outro momento de má fase ou lesão, Ohtani, Mookie Betts, Freddie Freeman e Teoscar Hernández sempre produziram bem. O resto do ataque oscilou muito e despertava alguma desconfiança.
No montinho, a rotação com Clayton Kershaw, Tyler Glasnow, Yoshinobu Yamamoto, Walker Buehler e um entre James Paxton e Gavin Stone soava boa antes de a temporada começar. Alguns estavam contundidos, mas entrariam em condições durante o ano e seria uma estrutura boa para o mata-mata. No entanto, Kershaw, Glasnow e Stone tiveram lesões que os tiraram da reta final do campeonato, Yamamoto e Buehler foram inconsistentes também por problemas físicos e Paxton não teve um bom desempenho. Jack Flaherty foi contratado no fechamento da janela de transferências, mas o Los Angeles chegou aos playoffs com meia rotação.
O peso iria ao bullpen, o que fazia muito torcedor dos Dodgers coçar a orelha de preocupação pelo modo como o criticado técnico Dave Roberts conduziria as partidas.
A equipe californiana terminou a temporada regular com a melhor campanha geral, mas dava para considerar abaixo da expectativa inicial. Afinal, os 60,8% de aproveitamento (98 vitórias) representavam a pior marca da franquia desde 2018. E, nesse tempo todo, a única versão dos Dodgers a conquistar o título foi a de 2020, que teve uma temporada mais curta e praticamente sem torcida devido à pandemia de COVID-19. Todas as demais naufragaram em problemas como rotação que não ou, bullpen sobrecarregado ou ataque que desapareceu em momentos-chave. Como um time com meia rotação, meio ataque e totalmente dependente das decisões de bullpen que o técnico tomaria conseguiria vencer?
Bem, os Dodgers venceram. Porque conseguiram virar a chave em todas as questões. A rotação realmente teve só três abridores, e Flaherty variou entre jogos brilhantes e medíocres, mas Yamamoto e Buehler elevaram seu nível de jogo para estarem à altura da necessidade de um time campeão. E o bullpen esteve brilhante, com cada jogador entendendo seu papel naquela sequência e entregando as eliminações nas entradas mais decisivas, seguindo uma gestão brilhante de Roberts (uma das estrelas do título).
O ataque também apareceu por completo, inclusive com jogadores como Kiké Hernández e Tommy Edman, tidos como coadjuvantes no início da pós-temporada. Isso tirou peso dos grandes nomes, ainda que todos tenham correspondido em algum momento dos playoffs (sobretudo Freeman, o MVP da World Series).
No final das contas, os Dodgers que sempre entravam como favoritos e quase sempre caíam não jogaram na pós-temporada de 2024. Quem entrou em campo foram os Dodgers que sabiam que teriam de contornar várias adversidades para corresponder à condição de favoritos. E talvez essa consciência tenha ajudado a fazer tudo se encaixar como nunca nos anos anteriores. Todo mundo contribuiu dentro de seus limites, fazendo seu papel na hora necessária. O título não pareceu consequência natural de um supertime construído para vencer. Pareceu uma façanha de um grupo que se superou para isso.
Isso tornou a conquista mais justa. E saborosa.
O Semana MLB é um post em forma de newsletter sobre os principais temas (e a programação de TV) da MLB. Esta é a última edição de 2024. Nos vemos ano que vem!
TRÊS STRIKES
1) A audiência da World Series de 2024 foi a maior em sete anos. Os cinco jogos tiveram média de 15,1 milhões de espectadores de acordo com dados da FOX, com a partida decisiva chegando a 18,2 milhões. A última vez que a média de audiência da WS foi superior a essa foi em 2017 (Dodgers x Houston Astros), um confronto que chegou a sete jogos (a audiência tende a aumentar quanto mais equilibrada a série). Além disso, a final da MLB teve média de 12,1 milhões na TV japonesa, com números até superiores aos dos Estados Unidos após os jogos 1 e 2 (realizados na manhã de sábado e de domingo no horário do Japão, as outras partidas foram na manhã de dias de semana). É a World Series mais vista pelo público japonês, uma consequência da presença de Shohei Ohtani e Yoshinobu Yamamoto em campo.
2) Foi anunciada, na última quarta (dia 30), a criação da Women’s Pro Baseball League. A liga se inspirou no sucesso recente da WNBA e da WNSL para restabelecer o beisebol feminino profissional na América do Norte após décadas sem liga. O caso mais famoso de beisebol feminino é o da AAGPL (All-American Girls Professional Baseball League), criada durante a II Guerra Mundial e fonte de inspiração para um filme de sucesso em 1992 e uma série no streaming em 2022. Mas, desde então, mulheres que praticam beisebol tinham de tentar a carreira nas ligas masculinas ou migrar para o softbol, onde há competição universitária bem consolidada e ligas profissionais. Os planos da WPBL é ter seis franquias para a sua primeira temporada, em 2026.
3) A Colômbia é o país que mais cresce no cenário do beisebol latino-americano, impulsionado por uma liga profissional que é disputada ininterruptamente há 12 anos e, em 2022, teve um time campeão caribenho. Na última temporada, os Caimanes de Barranquilla foram campeões tendo como principal destaque o arremessador brasileiro Daniel Missaki, eleito MVP da final. E, agora, o público brasileiro poderá conferir a LPB, que começou nesta semana com um jogo transmitido ao vivo todo dia no Disney+.
PROGRAMAÇÃO DE INVERNO (no hemisfério norte)
O beisebol não para com o fim da MLB. Veja abaixo o calendário do esporte até o reinício das grandes ligas.
Novembro
Sul-Americano de Beisebol, no Peru
Início da Taça Brasil, principal torneio de clubes brasileiros
Premier12, torneio com as principais seleções do mundo (jogadores da MLB não disputam)
Temporada regular das principais ligas do Caribe (República Dominicana, México / Liga do Pacífico, Venezuela, República Dominicana, Porto Rico, Colômbia e Panamá)
Início da ABL, a liga australiana
Arizona Fall League, competição com as principais promessas das ligas menores ou recém-draftadas
Dezembro
Final da Taça Brasil
Janeiro
Finais das ligas profissionais do Caribe
Fevereiro
Eliminatórias do WBC (Copa do Mundo do beisebol). O Brasil está no grupo com Colômbia, China e Alemanha. Os dois primeiros se classificam
Série do Caribe, competição que reúne os campeões das principais ligas profissionais da América Latina
Finais da ABL - Início do Spring Training, a pré-temporada da MLB