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Semana MLB | O que os Dodgers de 2024 tinham de diferente de outros anos 564971

Em um intervalo de apenas 10 dias, o Los Angeles Dodgers explodiu o mercado da MLB ao anunciar a contratação do jogador mais caro da história dos esportes americanos e do arremessador mais caro da história do beisebol. Shohei Ohtani e Yoshinobu Yamamoto chegaram para reforçar uma equipe que já tinha uma dinastia consolidada em sua divisão e que disputara todas as edições dos playoffs desde 2013. A imagem de supertime, favoritaço ao título, era óbvia.

10 meses depois, a expectativa se confirmou e o time californiano ergueu a taça após vencer o New York Yankees por 4 a 1 na World Series. O que a condição inicial de favorito e a realidade final do título não contam, porém, é como a trajetória foi conturbada. A ponto de muitos (incluindo o autor deste texto) duvidarem da capacidade dos Dodgers de desviar dos obstáculos – trocadilho proposital – para ar por todas as fases do mata-mata. Uma caminhada que parecia muito mais árdua que a de algumas temporadas recentes, em que os angelenos também entraram como favoritos e ficaram pelo caminho.

Os Dodgers se planejaram para estarem fortes em todas as áreas, mas a única que realmente respondeu ao longo de todo o ano foi o quarteto que abre a ordem de rebatedores. Salvo um ou outro momento de má fase ou lesão, Ohtani, Mookie Betts, Freddie Freeman e Teoscar Hernández sempre produziram bem. O resto do ataque oscilou muito e despertava alguma desconfiança.

No montinho, a rotação com Clayton Kershaw, Tyler Glasnow, Yoshinobu Yamamoto, Walker Buehler e um entre James Paxton e Gavin Stone soava boa antes de a temporada começar. Alguns estavam contundidos, mas entrariam em condições durante o ano e seria uma estrutura boa para o mata-mata. No entanto, Kershaw, Glasnow e Stone tiveram lesões que os tiraram da reta final do campeonato, Yamamoto e Buehler foram inconsistentes também por problemas físicos e Paxton não teve um bom desempenho. Jack Flaherty foi contratado no fechamento da janela de transferências, mas o Los Angeles chegou aos playoffs com meia rotação.

O peso iria ao bullpen, o que fazia muito torcedor dos Dodgers coçar a orelha de preocupação pelo modo como o criticado técnico Dave Roberts conduziria as partidas.

A equipe californiana terminou a temporada regular com a melhor campanha geral, mas dava para considerar abaixo da expectativa inicial. Afinal, os 60,8% de aproveitamento (98 vitórias) representavam a pior marca da franquia desde 2018. E, nesse tempo todo, a única versão dos Dodgers a conquistar o título foi a de 2020, que teve uma temporada mais curta e praticamente sem torcida devido à pandemia de COVID-19. Todas as demais naufragaram em problemas como rotação que não ou, bullpen sobrecarregado ou ataque que desapareceu em momentos-chave. Como um time com meia rotação, meio ataque e totalmente dependente das decisões de bullpen que o técnico tomaria conseguiria vencer?

Bem, os Dodgers venceram. Porque conseguiram virar a chave em todas as questões. A rotação realmente teve só três abridores, e Flaherty variou entre jogos brilhantes e medíocres, mas Yamamoto e Buehler elevaram seu nível de jogo para estarem à altura da necessidade de um time campeão. E o bullpen esteve brilhante, com cada jogador entendendo seu papel naquela sequência e entregando as eliminações nas entradas mais decisivas, seguindo uma gestão brilhante de Roberts (uma das estrelas do título).

O ataque também apareceu por completo, inclusive com jogadores como Kiké Hernández e Tommy Edman, tidos como coadjuvantes no início da pós-temporada. Isso tirou peso dos grandes nomes, ainda que todos tenham correspondido em algum momento dos playoffs (sobretudo Freeman, o MVP da World Series).

No final das contas, os Dodgers que sempre entravam como favoritos e quase sempre caíam não jogaram na pós-temporada de 2024. Quem entrou em campo foram os Dodgers que sabiam que teriam de contornar várias adversidades para corresponder à condição de favoritos. E talvez essa consciência tenha ajudado a fazer tudo se encaixar como nunca nos anos anteriores. Todo mundo contribuiu dentro de seus limites, fazendo seu papel na hora necessária. O título não pareceu consequência natural de um supertime construído para vencer. Pareceu uma façanha de um grupo que se superou para isso.

Isso tornou a conquista mais justa. E saborosa.

O Semana MLB é um post em forma de newsletter sobre os principais temas (e a programação de TV) da MLB. Esta é a última edição de 2024. Nos vemos ano que vem!

TRÊS STRIKES

1) A audiência da World Series de 2024 foi a maior em sete anos. Os cinco jogos tiveram média de 15,1 milhões de espectadores de acordo com dados da FOX, com a partida decisiva chegando a 18,2 milhões. A última vez que a média de audiência da WS foi superior a essa foi em 2017 (Dodgers x Houston Astros), um confronto que chegou a sete jogos (a audiência tende a aumentar quanto mais equilibrada a série). Além disso, a final da MLB teve média de 12,1 milhões na TV japonesa, com números até superiores aos dos Estados Unidos após os jogos 1 e 2 (realizados na manhã de sábado e de domingo no horário do Japão, as outras partidas foram na manhã de dias de semana). É a World Series mais vista pelo público japonês, uma consequência da presença de Shohei Ohtani e Yoshinobu Yamamoto em campo.

2) Foi anunciada, na última quarta (dia 30), a criação da Women’s Pro Baseball League. A liga se inspirou no sucesso recente da WNBA e da WNSL para restabelecer o beisebol feminino profissional na América do Norte após décadas sem liga. O caso mais famoso de beisebol feminino é o da AAGPL (All-American Girls Professional Baseball League), criada durante a II Guerra Mundial e fonte de inspiração para um filme de sucesso em 1992 e uma série no streaming em 2022. Mas, desde então, mulheres que praticam beisebol tinham de tentar a carreira nas ligas masculinas ou migrar para o softbol, onde há competição universitária bem consolidada e ligas profissionais. Os planos da WPBL é ter seis franquias para a sua primeira temporada, em 2026.

3) A Colômbia é o país que mais cresce no cenário do beisebol latino-americano, impulsionado por uma liga profissional que é disputada ininterruptamente há 12 anos e, em 2022, teve um time campeão caribenho. Na última temporada, os Caimanes de Barranquilla foram campeões tendo como principal destaque o arremessador brasileiro Daniel Missaki, eleito MVP da final. E, agora, o público brasileiro poderá conferir a LPB, que começou nesta semana com um jogo transmitido ao vivo todo dia no Disney+.

PROGRAMAÇÃO DE INVERNO (no hemisfério norte)

O beisebol não para com o fim da MLB. Veja abaixo o calendário do esporte até o reinício das grandes ligas.

Novembro

  • Sul-Americano de Beisebol, no Peru

  • Início da Taça Brasil, principal torneio de clubes brasileiros

  • Premier12, torneio com as principais seleções do mundo (jogadores da MLB não disputam)

  • Temporada regular das principais ligas do Caribe (República Dominicana, México / Liga do Pacífico, Venezuela, República Dominicana, Porto Rico, Colômbia e Panamá)

  • Início da ABL, a liga australiana

  • Arizona Fall League, competição com as principais promessas das ligas menores ou recém-draftadas

Dezembro

  • Final da Taça Brasil

Janeiro

  • Finais das ligas profissionais do Caribe

Fevereiro

  • Eliminatórias do WBC (Copa do Mundo do beisebol). O Brasil está no grupo com Colômbia, China e Alemanha. Os dois primeiros se classificam

  • Série do Caribe, competição que reúne os campeões das principais ligas profissionais da América Latina

  • Finais da ABL - Início do Spring Training, a pré-temporada da MLB