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Polêmica na eleição, gerência do skate e mais: o que pensam os candidatos à presidência do COB 15a2o

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Paulo Wanderley e Marco La Porta respondem sobre polêmica na eleição do Comitê Olímpico do Brasil (1:43)

Presidente do COB concorre a mais uma eleição: oposição 'lamenta' 3º mandato, o que é ilegal, Paulo Wanderley discorda (1:43)

Depois das Olimpíadas de Paris, mais um episódio vai marcar o ano de 2024 do esporte nacional: a eleição para a presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB), prevista para esta quinta-feira (03) às 10h.

O pleito será decidido por maioria simples na Assembleia Geral da entidade, que será realizada no Centro de Treinamento do Time Brasil, localizado na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro. Os eleitores são os 34 presidentes das Confederações Olímpicas filiadas ao COB, dois membros brasileiros do Comitê Olímpico Internacional (COI) e 19 representantes da Comissão de Atletas do COB (CACOB).

Duas chapas concorrem às cadeiras de presidente e de vice do COB. Na situação, Paulo Wanderley e o Alberto Maciel Júnior disputam a eleição, enquanto Marco La Porta, ex-vice de Paulo, e Yane Marques, ex-presidente da CACOB, formam a oposição.

Visando dar luz ao pleito, a ESPN conversou com as duas chapas e questionou temas relevantes para o movimento olímpico nacional. Foram concedidos 15 minutos para cada chapa, sendo que Alberto não pode participar da entrevista por conta de uma incompatibilidade de agenda.

Eleição pode parar na justiça? 3dk3f

O pleito está nos holofotes porque a candidatura do atual presidente Paulo Wanderley está no centro de um debate: ele está tentando um segundo mandato ou um ilegal terceiro?

O dirigente assumiu a presidência do COB em 2017, quando era vice-presidente de Carlos Arthur Nuzman, que renunciou após ser preso durante uma operação que investigava uma possível compra de votos para o Rio de Janeiro sediar as Olimpíadas. Então, Paulo venceu a eleição para presidente em 2020 e continuou no cargo. Agora, ele tenta a reeleição e, se vencer, pode ficar até 2028 no poder.

Para a chapa do atual presidente, a candidatura é legal porque considera o período de 2017 a 2020 como um “mandato-tampão” e, logo, interpreta 2020 como sua primeira eleição. Seguindo essa linha, a Comissão Eleitoral do COB homologou a candidatura de Paulo Wanderley após um aval do Conselho de Ética da entidade.

No entanto, alguns atletas, como Hortência, e entidades ligadas aos esportes, como o Atletas pelo Brasil e o Pacto pelo Esporte, se manifestaram contra essa candidatura porquem interpretam que o presidente está tentando um terceiro mandato, que é expressamente proibido pela Lei Pelé e pelo próprio estatuto do COB.

Questionados se a eleição pode terminar na justiça, os candidatos responderam:

Paulo Wanderley: “Eu acredito que estou indo para minha primeira reeleição, tenho convicção disso aí. Agora, esse tema jurídico corresponde a juristas, advogados e tal. Quando a demanda vier e se vier (judicialização), será dado o tratamento adequado. Não por mim, mas sim pela área correspondente.”

La Porta e Yane Marques: “A gente tem uma preocupação desde o início com essa tentativa de mais uma recondução do presidente Paulo Wanderley. A gente entende que contraria o estatuto, a Lei Geral do Esporte, a Lei Pelé e pareceres do Ministério do Esporte. Além de tudo, não é uma questão somente legal, mas uma questão moral também. Então, hoje o esporte não aceita mais um dirigente ficar 11 anos à frente de uma entidade, que seria o caso se ele ficasse mais quatro."

"Então, a gente entende que é preciso que haja um respeito ao estatuto e um respeito às regras. Nós não vamos na campanha, de forma alguma, judicializar, nós já assumimos esse compromisso porque esse é um problema do governo e do conselho de ética.

"A gente quer fazer uma campanha propositiva. Então, a gente quer ir para o voto e que a assembleia decida se vai querer uma chapa que a uma segurança ao sistema olímpico ou uma outra que coloca todo o sistema em risco, sabendo que pode haver um parecer contrário da certificação do ministério, interromper os recursos para as confederações.”

Representatividade do skate 255dg

A World Skate, federação internacional filiada ao COI que gere o skate e modalidades sobre patins, exige que cada país tenha apenas uma confederação correspondente e, no Brasil, existem duas confederações: uma de skate (CBSk) e uma de hóquei e patinação (CBHP).

A World Skate sugeriu que essas duas confederações se unissem e criassem uma única confederação no Brasil, o que não aconteceu. No início do ano, a federação desfiliou a CBSk e ou o skate brasileiro para a CBHP. No entanto, a Confederação Brasileira de Skateboarding recorreu à Corte Arbitral do Esporte (CAS) e retomou a gestão da modalidade no país para os Jogos Olímpicos de Paris.

O Comitê Olímpico do Brasil não intermediou esse problema e a questão segue indefinida. Qual são os planos dos candidatos para esse imbróglio?

PW: “O COB não planeja nada. Essa é uma situação da CBSk, da CBHP e da World Skate. Esses 3 personagens são os envolvidos. O COB não tem ingerência sobre isso. Nosso interesse é que haja harmonia tanto de uma confederação quanto da outra. Respeitamos as duas modalidades. O skate, sem dúvida, é um esporte de excelência no país. Agora, recentemente, a Raicca (Ventura), foi campeã (mundial de park). O Japinha (Augusto Akio) foi campeão e o Pedro Barros foi vice-campeão (também no park).

"Então, é um esporte de excelência e torço muito para que continue sendo. O que depender de nós, estamos apoiando aquele que for definido pela World Skate. Não somos nós que definimos, a federação internacional é quem determina qual é a entidade esportiva em cada país, que é a representante da modalidade. Então, o COI só reconhece nessas condições, vem de lá para cá. Nós acatamos. Eu espero que seja e um resolvido em comum senso das três entidades.”

LP e YM: “Nessa história toda o que faltou foi o diálogo. Então, você tem que sentar todo mundo na mesma mesa, todas as instituições que estão envolvidas, e chegar a uma solução que não prejudique o skate no Brasil. Eu acho que está faltando isso. Tem que se sentar na mesa todo mundo e tentar achar uma solução e quem pode fazer isso é o COB, mas isso já deveria ter sido liderado lá trás. Tinha que trazer o pessoal da World Skate para o Brasil e sentar todo mundo aqui na mesa e achar uma solução."

“É isso que a gente pretende, inclusive a gente já conversou aqui com o presidente da CBSk e (combinamos) de sentar logo depois de finalizar o processo eletivo, para achar uma solução. Os atletas não podem ser prejudicados e o skate não pode ser prejudicado. Então, a gente vai chegar uma solução com diálogo.”

Doping no Brasil 82h2x

O Brasil é um dos países que enfrenta sérios problemas com o doping. Recentemente, o maratonista Daniel Nascimento, que estava classificado para as Olimpíadas de Paris, testou positivo e acabou fora da competição. Um dos pontos criticados pela Agência Internacional de Antidoping (WADA) é a a quantidade insatisfatória de testes dos atletas brasileiros, responsabilidade da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD). Como as chapas pretendem lidar com essa questão?

PW: “Nós temos a área de prevenção ao doping dentro do COB, mas nós não fazemos os testes. Isso é um encargo diretamente da ABCD, do Ministério do Esporte. Essa é a responsabilidade deles, de controlar e de disseminar (os testes). Mas nós temos a nossa de estudos que faz exatamente a prevenção. Esse é um trabalho constante de sempre e também está avançando. A nossa tolerância é zero com relação a isso (doping).

LP e YM: “Fundamentalmente, o principal papel do COB é a política de prevenção e de educação. Essa educação tem que começar na base, lá cedo. Então, não basta, você simplesmente colocar no site e estar à disposição para o atleta ler. Não, você tem que ir lá na ponta da linha, no treino do atleta e levar o profissional que sabe fazer esse trabalho de educação e mostrar na prática como é que é, o que ele não pode tomar e orientar."

"O COB também precisa ter disponibilidade sempre de um médico para a atender os atletas. “Eu quero tomar um remédio”, vai ter um contato direto no COB para ele saber se pode tomar um remédio ou não. Eu acho que esse é o papel do Comitê Olímpico, dar condições para o atleta educá-lo e evitar que ele cometa alguma falha por desconhecimento.”

Mulher no esporte 3e2w3y

As Olimpíadas de Paris foram um marco na igualdade de gênero no esporte. Pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos, o mesmo número de vagas para homens e mulheres foram colocadas em disputa. Na delegação brasileira, a participação feminina foi maior do que a masculina, algo também inédito. Como as chapas pretendem trabalhar ainda mais a inclusão da mulher no esporte?

PW: "O objetivo é sempre melhorar e aumentar. Qualquer um vai falar isso e é fácil falar para quem não fez ainda. Nós já fizemos e criamos o programa Mulher no Esporte e o Esporte Seguro, que trata do assédio e abuso no esporte. Hoje nós temos na direção do COB, se você contar de coordenadoras até diretoria, você tem 53% de mulheres. Se você considerar apenas lideranças, de gerência para cima, são 33% de mulheres dentro do COB."

"Então, isso já é mais do que preconiza a paridade, que agora é de 30%. Então, nós temos a consciência de que é necessário, já estamos fazendo e, evidentemente, que vamos consolidar o que está sendo feito. Há uma intenção concreta, de em um espaço curto de tempo e quem sabe ao terminar essa próxima gestão, para que nós tenhamos uns 40 ou 45% (na liderança) porque isso não é de um dia para o outro. Nós temos um programa de capacitação de mulheres, não só na parte de treinadoras de atletas, mas de gestão também. Isso faz parte do nosso programa dentro do Instituto Olímpico Brasileiro, o IOB, que é a nossa área de educação dentro do COB."

LP e YM: “A gente começa colocando em prática 50/50 aqui na representatividade da nossa chapa. A comissão de atletas já obedece a equidade de gênero, metade de homens e metade de mulheres, mas a gente tem muita consciência que precisa de uma energia e de um trabalho para fomentar e investir no esporte feminino do Brasil. A gente tem boas ideias que não são ideias de Yane e não são ideias do La Porta, são ideias de todas as pessoas que a gente conversou. A gente pretende dividir com os atletas e com as confederações essa responsabilidade. A gente está muito disposto a fazer ações educativas e ações práticas que a gente fomente o esporte feminino no Brasil. Para que a gente consiga, paulatinamente e progressivamente, aumentar essa representatividade a nível olímpico."

“Hoje o COB tem uma mulher apenas na diretoria, e aí a gente vê discurso dizendo nós temos muitas mulheres em cargos de gerências e muitas mulheres... mas na diretoria só temos uma. A gente começa dando o exemplo da chapa. A gente vai ter mais duas mulheres em uma composição da nossa diretoria (se eleitos). Então, dando o exemplo, começando de cima pela alta direção, mostrando que a nossa política não é só no papel, é na execução mesmo.”

Premiação de atletas 5q6x43

Nos últimos anos, os atletas brasileiros aram a receber uma remuneração maior, seja do COB, ou do próprio Ministério do Esporte, através dos programas de bolsas, como o bolsa-atleta e o bolsa-pódio. Nas Olimpíadas de Paris, a World Athletics, federação internacional de atletismo, pagou para todos os campeões olímpicos da modalidade um prêmio de 50 mil dólares, algo em torno de 250 mil reais, algo inédito na história olímpica.

O movimento foi elogiado por alguns, mas também criticado por uma corrente que acredita que essa compensação financeira acaba prejudicando o “espírito olímpico”, uma vez que a premiação máxima deveria ser o fato de representar o país em uma competição internacional. As duas chapas comentaram sobre essa tendência de remunerar os atletas de acordo com o desempenho.

PW: "Eu fui um dos que lançaram isso dentro do Brasil. Quando eu era o presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), nós premiávamos os atletas pelos seus resultados. Eu me lembro que em Londres-2012, nós premiamos atletas ao entrar na Vila Olímpica. O atleta do judô que entrava na vila olímpica, independente de medalha, já recebiam um cachê bom, muito bom por sinal para aquela época. Os atletas classificados também recebiam em proporção, em primeiro lugar, segundo lugar e terceiro lugar, homens e mulheres iguais."

"Sou partidário disso. Inclusive, é projeto para executar, graças ao programa TOP COB, premiar também as confederações. As confederações também terão o seu quinhão da organização, pelo trabalho que eles fazem, de organizar a participação dos seus atletas em Olimpíadas.Então, nada mais justo que eles também têm uma participação nisso e os atletas continuarão recebendo. Fizemos a primeira premiação olímpica (do Brasil) em Tóquio e aumentamos 40% agora em Paris, vamos ver o que que dá para fazer daí para frente em Los Angeles, Brisbane, e daí para frente."

LP e YM: “Essa premiação é justa, considerando que o atleta vive em função do esporte. Hoje no Brasil é um momento muito particular. Eu (Yane) posso dizer com muita propriedade que na minha época, vivi essa transição, da valorização do atleta e da importância do link (conexão) de sua imagem com as empresas. O atleta carrega naturalmente valores e princípios que são muito bons para a sociedade. O atleta é uma vida que é muito intensa, de muita abnegação.

"Uma lesão pode acabar com a carreira do atleta. Nós somos atletas profissionais até um certo ponto na nossa vida e, depois, a gente tem que enfrentar uma carreira profissional pós-carreira. Então, essas premiações são justas, honestas, bem-vindas e merecedoras por parte dos atletas. O Brasil também já tem feito isso. Agora, Os atletas chegam depois de uma Olimpíada com a cama um pouquinho mais forrada e faz um pé-de-meia, porque o pós-carreira do atleta é muito imprevisível. Eles precisam estar preparados para ter uma vida depois dessa dedicação tão intensa ao esporte."