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Eriksen, do Tottenham, foi moldado pelo Ajax em casa de família e tinha que lavar a louça e tirar a mesa 41c5b

Neste sábado, o Tottenham encara o Liverpool na grande final da Champions League. E para ganhar a competição pela primeira vez na história, os Spurs contam com o talento do dinamarquês Chirstian Eriksen.

Vindo em mais uma ótima temporada pelo time de Londres, com 10 gols e 17 assistências em 50 partidas até agora, o meio-campista é um dos jogadores mais cobiçados do mundo.

Segundo a imprensa inglesa, a equipe de White Hart Lane só aceita sentar à mesa para negociar seu craque com uma proposta de pelo menos 95 milhões de libras (R$ 476,65 milhões).

Principal atleta também da seleção da Dinamarca, Eriksen está no Tottenham desde a temporada 2013/14, quando foi comprado do Ajax por 13,5 milhões de euros (R$ 59,74 milhões, na cotação atual).

Ele chegou ao clube de Amsterdã em 2008/09, para jogar na equipe sub-17, depois de ter sido descoberto por olheiros no Brondby. Ao todo, disputou quatro temporadas inteiras pelo time principal do Ajax, com enorme destaque.

O que poucos sabem é que, antes de tornar-se uma estrela do futebol mundial, Eriksen foi um simples garoto que o clube holandês moldou em sua cantera, inclusive usando uma estratégia diferenciada para ajudar na adaptação ao novo país: morar em uma casa de família.

O dinamarquês ou seus primeiros meses em Amsterdã morando com uma família local. Seus "pais postiços" cuidavam de sua alimentação e do bem-estar, mas o hóspede devia ajudar nas tarefas de casa, como lavar a louça, tirar a mesa e limpar o próprio quarto.

Quem conta é o brasileiro Danilo Pereira da Silva, jovem atacante que ou pelas bases de Santos, Corinthians e Vasco e que hoje está no time profissional do Ajax, após ter ado com sucesso pelas categorias de base alvirrubras.

Danilo morou exatamente na mesma casa (e com a mesma família) que Eriksen viveu quanto chegou à Holanda, e contou à ESPN como é o funcionamento do "intercâmbio".

Veja seu depoimento:

Cheguei ao Ajax com 18 anos. De cara, eles me disseram que não tinham lugar no alojamento e que eu ia ficar morando na casa de uma família holandesa que tem certificado. Eles te dão transporte e toda a estrutura até pelo menos você aprender inglês, um pouco de holandês e se adaptar à cultura do país. E dentro do Ajax tem uma escola que você a a frequentar.

Depois de seis meses, você tem autorização para procurar uma casa e morar sozinho. Na minha época, eu morei com dois jogadores da Polônia e um da Eslovênia. No começo foi difícil, mas depois acostumei. Até que não demorou tanto para me entrosar, porque sou um cara muito comunicativo, e isso me ajudou.

A minha família era um casal mais velho que tinha dois filhos adultos, mas que já não moravam mais com ele. A regra principal era que sempre depois das refeições a gente tinha que ajudar. Um lavava a louça, o outro tirava a mesa e outro lavava e guardava os talheres. Eles cozinhavam tudo, mas a gente tinha a obrigação de deixar tudo tinindo depois.

A comida era bem diferente, mas eu logo me acostumei e ei a gostar. Às vezes eles até tentavam fazer um arroz com feijão pra mim (risos). Mas o cardápio tinha vários tipos de tortas, sopas, legumes e pizzas.

O que eu mais aprendi nesta experiência foi a ter respeito e tratar sempre bem as pessoas. A família nos recebeu muito bem, a ponto de a gente nem pensar mais que estava longo do nosso país e da nossa família de verdade. Algumas vezes tinham algumas discussões, porque eu queria sair, mas eles não deixavam. 'Nós estamos aqui cuidando de você, não pode!'. Eu ei a entender que eles só queriam meu bem e aceitei. Tínhamos sempre que seguir as regras deles, não dá pra fazer o que você bem entender.

Nessa época, eu conheci o David Neres e ei a visitar a casa dele de vez em quando. Ficamos muito amigos, ele me ajudou bastante no processo de adaptação. Mesmo assim, a família sempre marcava em cima e exigia total responsabilidade nos nossos compromissos. Eles sempre pediam para a gente avisar os horários e onde a gente ia, de forma que eles não ficassem preocupados.

Eu morei seus meses e mantenho contato com minha família até hoje. Eles sempre me chamam para jantar lá, e vou junto com minha namorada. Eles também sempre vão assistir aos meus jogos e dão maior apoio. Temos um carinho muito grande.

Esse programa de adaptação eles fazem mais para os estrangeiros que para os holandeses. O Filipe Luís ou por isso também no Ajax, e o Eriksen, por coincidência, morou há alguns anos nessa casa que eu morei depois.

Eles me diziam que o Eriksen era um ótimo menino e que trabalhou muito para chegar aonde chegou. Sempre foi um meio-campista fantástico e um menino de boa criação. 'Continue com essa humildade e você chegará longe', eles diziam a ele. O pai da família inclusive guarda várias camisas dos jogadores que aram lá, inclusive uma do Eriksen. Assim como aconteceu comigo, eles se falam até hoje.

Nos treinos do Ajax, a gente sempre trabalha o 'um-dois' para ter espaço e se movimentar sempre pensando em ajudar o companheiro a ter opção. Um a por cima e o outro pelas costas da defesa. Eles gostam muito disso. É só ver como jogam o Tadic e o Van de Beek hoje, sempre fazendo infiltrações e alternando posições. É algo treinado desde a base. Fazemos muitas rodas de 'bobinho' bem sério, de cinco contra dois, que ensina a sair da pressão na saída de bola. Aqui o mais comum é a base treinar no 4-3-3 ou 4-1-2-3, sempre com três atacantes.

Fora de campo, a gente tem muita liberdade para conversar com os diretores, que são na maioria ídolos do clube. Eles nos am muitas dicas para melhorar em campo e corrigem os erros. Perguntam muito sobre a nossa vida, querem saber o que está acontecendo, se estamos tendo algum tipo de problema... Eles querem que a gente não tenha preocupações e possa focar só em jogar bola.

A maior diferença da base do Ajax para a do Brasil é a forma que eles pensam. Eles não puxam os meninos do time sub-17 direto para o profissional. Tem que ar pela equipe B antes, então você não queima etapas e você tem que construir uma trajetória até alcançar o elenco profissional.