Dois anos atrás, ao trocar Donovan Mitchell e Rudy Gobert, o Jazz deixou claro que iniciaria ali um processo de reconstrução. Não era hora de criar expectativas que fossem muito diferentes de acumular derrotas e pensar em escolhas altas de Draft. Mas pode-se dizer que as coisas deram mais certo do que o esperado. Lauri Markkanen, que chegou na negociação que envolveu a saída de Mitchell, virou all-star. O então novo treinador, Will Hardy, conseguiu colocar em prática um estilo de jogo em que os atletas não parecem engessados em suas posições, o que potencializou muita gente ali.
Acontece que por mais que os resultados fossem muito melhores do que se poderia imaginar, havia a clareza de que o time ainda não era forte o bastante para brigar mais em cima numa Conferência Oeste tão disputada, de competitividade feroz ao ponto de deixar equipes de bom nível fora dos playoffs. Aí o Jazz fez algumas movimentações pensando mais no futuro e acabou tirando um pouco o pé do acelerador.
Na temporada ada, o roteiro foi bastante semelhante. O Jazz fez algumas trocas buscando escolhas futuras de Draft e abrir espaço na rotação para os então calouros Taylor Hendricks e Brice Sensabaugh. Além disso, chegou até a manter Lauri Markkanen fora de combate em determinadas ocasiões na segunda metade do campeonato.
Diante de todo esse histórico recente, havia muita incerteza sobre o que seria feito com Markkanen. O finlandês tinha contrato só até junho de 2025. Isso significava que o Jazz corria o risco de perdê-lo de graça quando essa data chegasse. Não à toa, especulou-se bastante a possibilidade de ele ser trocado com algum time com maior ambição e que pudesse oferecer jovens interessantes e/ou escolhas de Draft. Só que o desfecho foi outro: Markkanen assinou uma extensão de contrato por mais quatro anos que o impede de ser negociado por toda a temporada 2024/25.
Outra novidade do período de férias foi a aposta no Draft em Cody Williams, ala que chamou a atenção pela capacidade atlética, versatilidade na defesa, infiltrações e potencial de se transformar em um bom arremessador de longa distância na NBA. Apesar de a experiência na Summer League não ter sido tão animadora, é de se imaginar que o Jazz vai querer vê-lo se desenvolver em quadra.
De resto, fica a expectativa para ver como se comportarão outros jovens que já estavam em Salt Lake City. Keyonte George teve um ano intrigante como novato, Taylor Hendricks terminou a temporada como titular e Walker Kessler ainda desperta boas doses de otimismo, apesar da queda que apresentou em seu segundo ano na liga.
Abre aspas b3rx

"Os jogadores que estiverem merecendo receber minutos são os que vão jogar. Não queremos que se instale por aqui um pensamento de que a gente só quer desenvolver um certo grupo de pessoas e que os outros são apenas peças de apoio ao redor delas. Sinto que há um perigo por aqui sobre o que pode vir a ser compreendido em termos de mentalidade no dia a dia. O que a gente quer que todo mundo no elenco saiba é que nós vamos entrar em quadra tentando vencer todos os nossos jogos."
A declaração é do técnico Will Hardy, garantindo que vai colocar em quadra quem estiver em melhor fase, independentemente da idade ou da experiência de cada jogador. Em um time em reconstrução e que deverá ficar de olhos bem abertos no mercado de trocas o tempo todo, esse comentário chama a atenção. Será que as coisas acontecerão mesmo desta maneira, ainda que isso resulte em um veterano mandando alguém mais jovem para o fundo da rotação?
Uma esperança 1a354a
Na temporada 2022/23, a primeira que teve Will Hardy no comando, o Jazz chegou à pausa para o All-Star Game com o quarto ataque mais eficiente da NBA. No campeonato ado, alcançou esse mesmo período do ano em 16º na lista dos melhores sistemas ofensivos. Rendimento não tão impressionante quanto o que se viu ano anterior, é claro, mas ainda bom o bastante para ficar acima de rivais como o Minnesota Timberwolves e Los Angeles Lakers.
Os números comprovam a impressão que fica em quem se arrisca a observar esse time com um pouco mais de calma. Parece haver um potencial aí de emplacar um ataque capaz de levar muitos problemas às defesas rivais. Vai saber o quanto o Jazz pode se tornar mais competitivo se isso for uma realidade por todo o ano.
Um medo x1y49
A formação que reuniu Keyonte George, Collin Sexton, Lauri Markkanen, Taylor Hendricks e John Collins foi a quarta mais utilizada por Will Hardy na temporada ada -- abaixo de outras três que contavam com jogadores que já saíram do elenco. O resultado da experiência deste quinteto não foi boa: o saldo a cada 100 posses de bola é de -3,2 pontos.
Preocupa por se tratar daquele que deverá ser o quinteto principal desta temporada, pelo menos até segunda ordem? Sim. Mas não é só por isso. O buraco é mais embaixo.
Estes cinco jogadores ficaram juntos em quadra por apenas 99 minutos, distribuídos ao longo de nove partidas. Não é uma amostragem tão grande. Na verdade, nem mesmo as outras três formações tiveram muito mais tempo do que isso. Além de mostrar o tanto que Will Hardy precisou fazer testes durante a temporada, esse recorte aponta que as experiências ainda estão longe de apontar um quinteto que possa ser considerado um pouco mais seguro.
O cara 5m4q6c

Não é só que Lauri Markkanen tem se mostrado um melhor jogador depois que se juntou ao Utah Jazz. A subida de patamar foi tão grande que o levou ao All-Star Game de 2023, mesmo ano em que levou, com sobras, o prêmio de atleta que mais evoluiu.
Na temporada ada, disputou apenas 55 partidas — em parte devido a uma lesão no ombro, mas também por causa de um esforço que o Jazz fez para acumular derrotas na reta final da campanha. As médias foram de 23,2 pontos e 8,2 rebotes nestes confrontos, com aproveitamento de 40% nas bolas de três.
Aos 27 anos, pela bola que vem jogando, não há nenhuma dúvida de que é — com alguma folga — o principal destaque deste elenco. A extensão contratual assinada nas férias e a impossibilidade de ser trocado nesta próxima temporada sinalizam que ele atuará como um pilar da reconstrução que o Jazz vai continuar tocando.
Também vale a pena ficar de olho 1h712m
Na temporada ada, a sua segunda na liga, Walker Kessler teve médias de 8,1 pontos, 7,5 rebotes e 2,4 tocos em cerca de 23 minutos por jogo. Com exceção dos tocos, os outros números representam uma queda em relação ao ano de calouro. O aproveitamento nos arremessos também caiu.
É decepcionante, claro, sobretudo depois de um ano de estreia tão bom. Kessler, vale lembrar, ficou em terceiro lugar na corrida pelo prêmio de melhor novato da liga em 2023, atrás apenas de Paolo Banchero (Orlando Magic) e Jalen Williams (Oklahoma City Thunder). O potencial intrigante, sobretudo como protetor de aro, o rendeu até mesmo uma convocação para a seleção dos Estados Unidos que disputou a Copa do Mundo.
As estatísticas avançadas apontam que Kessler é um jogador mais eficiente quando atua perto da cesta, tanto na defesa como no ataque. Neste contexto, parece mais difícil imaginá-lo atuando ao lado de outros jogadores que não ofereçam arremessos de longa distância. Portanto, ainda é complicado pensar em escalá-lo com John Collins.
Na temporada ada, Kessler e Collins estiveram juntos em quadra por apenas 296 minutos ao longo de 47 partidas - o que dá, em média, pouco mais de seis minutos por jogo. É pouco, e o resultado não ajuda a cogitar a insistência na experiência: o time teve saldo de -20,2 pontos a cada 100 posses de bola com os dois juntos.
Desenha-se, portanto, uma situação que vale a pena ficar de olho ao longo desta temporada. O Jazz vai querer dar mais tempo para Kessler e colocá-lo em situações mais favoráveis? E o que isso pode significar com relação ao futuro de John Collins?
Grau de apelo para o telespectador - de 1 a 5 p6w71
2,5 (baixo para médio) - Não é dos times mais empolgantes de se ver, mas também não é raro vê-lo resistindo bravamente diante de adversários mais fortes e entregando duelos empolgantes nestas ocasiões.
Palpite para a temporada 2024/25 do Jazz 1y82x
No cenário mais otimista: campanha próxima dos 50% de aproveitamento e luta até o fim da temporada por vaga no play-in, o que já representaria um salto e tanto em relação ao ano anterior.
No cenário mais pessimista: menos de 30 vitórias, veteranos frustrados, jovens não desenvolvidos e sensação de os para trás neste processo de reconstrução.
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