O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) suspendeu o meia Miguelito, do América-MG, por cinco jogos após julgamento sobre a acusação de injúria racial de Allano, do Operário, durante duelo entre as equipes pela Série B.
Emprestado pelo Santos ao Coelho, o jogador boliviano foi suspenso preventivamente pelo STJD no início do mês. O jogador foi preso em flagrante em Ponta Grossa, no Paraná, local da partida.
Em comunicado, o clube mineiro afirmou que vai entrar com um efeito suspensivo até que um novo julgamento seja marcado.
"Em julgamento no STJD nesta segunda-feira (19), o América, que corria risco de perda de mando de campo e pontos, foi absolvido de forma unânime
Já o atleta Miguelito, por três votos a dois, levou cinco jogos de suspensão. O Clube vai entrar com efeito suspensivo para que o jogador possa atuar até que um novo julgamento seja marcado", publicou o América nas redes.
Em julgamento no STJD nesta segunda-feira (19), o América, que corria risco de perda de mando de campo e pontos, foi absolvido de forma unânime.
— América FC (@AmericaFC1912) May 19, 2025
Já o atleta Miguelito, por três votos a dois, levou cinco jogos de suspensão. O Clube vai entrar com efeito suspensivo para que o...
Entenda o caso 646131
Toda a confusão aconteceu aos 30 minutos do primeiro tempo de Operário x América-MG. Na oportunidade, Miguelito disse alguma coisa em direção a Allano, que se revoltou na hora. Os jogadores do Operário logo foram para cima do juiz também, alegando injúria racial do jogador do Coelho.
É possível ouvir o juiz dizer que não havia visto a cena. Mesmo assim, o árbitro cruza os braços em cima da cabeça, fazendo o sinal do protocolo de racismo e interrompendo a partida.
A partida acabou sendo retomada depois de 16 minutos de paralisação. Como não viu nada, o árbitro não tomou nenhuma atitude em relação a Miguelito, que ficou em campo até o intervalo, quando acabou sendo substituído.
O que diz a súmula de Operário x América-MG? 1v6t1w
O árbitro Alisson Sidnei Furtado (TO) relatou em súmula a acusação de injúria racial do atacante Allano, do Operário-PR a Miguelito, meia-atacante do América-MG.
De acordo com o documento, Allano acusou Miguelito de ter sido chamado de "preto cagão" e informou ao árbitro da partida o ocorrido. Alisson Sidnei, então, paralisou a partida e realizou o chamado protocolo antirracismo, que paralisou o confronto e anunciou nos alto-falantes do estádio o que havia acontecido.
Apesar da acusação de Allano, Alisson Sidnei descreveu na súmula que “nenhum integrante da equipe de arbitragem no campo de jogo viu e/ou ouviu tal incidente”.
Veja abaixo o que diz a súmula na íntegra:
"Relato que aos 30min do primeiro tempo, o atleta numero 29 da equipe mandante, sr. allano brendon de souza lima, veio até minha direção, alegando ter sido chamado de "preto cagão" pelo atleta miguel angel terceros acuna, numero 07 da equipe visitante. informo que nenhum integrante da equipe de arbitragem no campo de jogo viu e/ou ouviu tal incidente. após a comunicação do atleta da equipe mandante, imediatamente foi realizado o protocolo antirracismo, em sua primeira etapa, a qual consiste na paralisação do jogo, realização do gestual antirracista e o anuncio feito no estádio explicando o motivo da paralisação do jogo e que se o incidente não cessasse, a partida seria interrompida."
O depoimento de Miguelito k4x2d
"Eu quero falar. O que aconteceu foi depois de um lance, uma falta que aconteceu com ele. Mas já havia acontecido faltas antigas. Tiveram três coisas que eu falei, mas em nenhum momento fui falar diretamente olhando para ele. Primeiro falei "cagão", pela falta. Mas não foi para o jogador, foi para o juiz, que estava dando umas faltas que a gente chama sem sentido, quando vamos trombar com os caras.
Depois eu falei uma expressão, meio que em espanhol e português: "merda do caralho".
Mas em nenhum momento eu cheguei e falei com ele diretamente. Foi uma expressão que eu tive porque estavam acontecendo com ele as faltas e tal. Não falei mais nada. Quando eu viro a cabeça pra ele, eu não falo nada. Como eu falei devagar, nem olhava pra ele, ele teve uma reação muito rápida, estava bolado com os lances, brigando com todo mundo, discutindo, e ele começou a falar: "você falou preto".
Eu olhei sem entender nada, foi quando ele chegou em mim e começou a falar: "Você me chamou de preto! Você me chamou de preto". Eu olho para ele com cara de quem não estava entendendo o que ele estava falando. Aí chegou o companheiro dele e começou todo mundo a chegar perto, a briga e parou o jogo. Depois mais nada"
Sim [nega que tenha falado "preto do caralho"], eu só falei isso.
Quando eu viro a cabeça, tem duas vezes que eu olho pra ele. Tem uma, que quando eu estou ando por ele, eu falo "caralho"', a palavra "merda do caralho". Quando eu estou na frente e ele atrás, e eu giro a cabeça, foi quando ele começa a falar: "Você falou preto", e eu achei que ele não estava falando comigo. Quando ele chega pela frente falando "Você falou preto", apontando pra mim, aí eu não entendi nada. Foi quando chegou o amigo dele [Jacy].
Pronunciamento de Allano 4x6l53
Por meio de nota oficial, Allano também se pronunciou sobre o tema.
O jogador reafirmou que sofreu injúria racial durante a partida e chamou a situação de "revoltante" e "inaceitável".
"Venho, por meio desta nota, me manifestar sobre o episódio lamentável de injúria racial que sofri durante a partida entre Operário e América Mineiro, pelo Campeonato Brasileiro da Série B.
Infelizmente, mais uma vez, o racismo mostrou sua face cruel dentro de um espaço que deveria ser de celebração, respeito e igualdade. Ser ofendido pela cor da minha pele é algo doloroso, revoltante e, acima de tudo, inaceitável.
Não vou me calar. Não por mim apenas, mas por todos os que já aram por isso e por aqueles que ainda lutam para que esse tipo de violência acabe de vez. O futebol, como a sociedade, precisa dizer basta ao racismo. Precisamos de justiça, responsabilidade e, sobretudo, empatia.
Agradeço ao Operário pelo apoio, aos meus companheiros de equipe, à minha família e a todos que têm se solidarizado comigo neste momento. A luta contra o racismo é de todos nós, e ela não vai parar enquanto houver injustiça."