Caso você não tenha visto, há algumas semanas o Paris Saint-Germain venceu seu último jogo da temporada do Campeonato Francês, 2 a 0 sobre o Metz. Kylian Mbappé não estava presente. Em vez disso, o craque ou o fim de semana na praia de Cannes, no outro lado do país, bebendo coquetéis e tomando banho de sol com o até então seu colega de equipe, Ousmane Dembélé.
Depois disso, o PSG enfrentou o Lyon na final da Copa da França para encerrar sua temporada e venceu por 2 a 1, conquistando mais uma tríplice coroa nacional. Naquele que foi o último jogo e troféu conquistado por Mbappé na equipe parisiense, ele não conseguiu contribuir com gol ou assistência. Foi uma maneira estranha de encerrar seus sete anos no clube.
Mbappé será lembrado como o maior jogador que já vestiu a camisa do PSG. Ele entra no panteão acima de Mustapha Dahleb, o extravagante ponta argelino dos anos 1970 e início dos anos 1980. Ele está acima de Safet Sušić, o maestro iugoslavo dos anos 80, e de seu companheiro de equipe, o atacante Dominique Rocheteau. Ele está acima dos heróis da década de 1990, como Valdo, Raí, David Ginola e George Weah.
Ele está acima do gênio Ronaldinho Gaúcho, acima das máquinas de fazer gols Zlatan Ibrahimović e Edinson Cavani. Ele está acima até mesmo de Neymar e Lionel Messi, que terminaram agens pelo PSG de forma insatisfatória. A lista pode continuar, mas Mbappé sempre estará no topo dela.
Embora tenha saído em termos incômodos, Mbappé foi maior e melhor do que qualquer outro. A quantidade de gols (256), assistências (96), jogos (307) e troféus (14) em sete temporadas é impressionante. Ele ultraou o recorde de Cavani como maior artilheiro da história do clube com uma facilidade surpreendente. Ele também proporcionou aos torcedores do PSG, e aos fãs de futebol no geral, alguns momentos incríveis: hat tricks (chegando a marcar cinco gols em um mesmo jogo), finalizações espetaculares, velocidade alucinante e dribles incríveis. Ele transmitia uma sensação de poder, domínio, confiança e superioridade sempre que estava com a bola.
No entanto, nem todos os torcedores do PSG gostavam dele; por ser tão clínico em tudo o que fazia no futebol, alguns achavam que ele nem sempre era o mais sincero. Com Mbappé, dentro e fora do campo, tudo é sempre calculado, ponderado e pensado. Parece que ele nunca se deixa levar completamente. Ele está sempre no controle de tudo, sejam suas emoções, seu talento, seu presente ou seu futuro.
Talvez o maior problema seja o fato de que, apesar de todos os títulos nacionais, a Uefa Champions League ainda lhe escapou. Muitos torcedores do PSG, ao relembrarem seus sete anos no clube, recordam e lamentam a chance perdida contra o Bayern de Munique na final de 2020, pouco antes do intervalo, quando o placar ainda estava 0 a 0.
Era uma chance que ele havia convertido centenas de vezes em sua vida, mas naquele momento ele acertou a bola em cima de Manuel Neuer. Esse é provavelmente seu maior arrependimento como jogador do PSG. Nunca seria uma jornada perfeita, mas a conquista do primeiro título da Champions League do time de sua cidade natal teria elevado seu status a outro patamar.
Ou, talvez, o amor cada vez menor dos torcedores tenha vindo simplesmente do fato de Mbappé ter flertado com o Real Madrid durante seus sete anos em Paris. A equipe espanhola nunca estava longe, os rumores de transferência eram noticiados toda janela, e a ameaça de Mbappé trocar a capital da França pela da Espanha era constante. Isso certamente não ajudou o relacionamento entre o jogador e a maioria dos torcedores.
Do ponto de vista de Mbappé, o vínculo também nunca foi totalmente sentido. Fayza Lamari, sua mãe, disse depois de sair da festa de despedida organizada por seu filho para 250 convidados que “os sete anos em Paris foram mágicos”. Definitivamente, houve alguma mágica ali, e o adolescente Kylian se tornou um homem em Paris. Entre o verão de 2017, quando chegou do Monaco com 18 anos, e o verão de 2024, quando sairá com 25 anos para se juntar ao Real Madrid, ele se tornou um jogador melhor, um vencedor da Copa do Mundo, e desenvolveu seu corpo e seu inteligência futebolística.
Ele sempre deverá muito ao seu amado PSG, que, por sua vez, sempre será grato pelo que ele lhes deu ao longo de sete anos - seis títulos do Campeonato Francês, quatro da Copa da França, duas da Copa da Liga, três da Supercopa da França -, mas a história chegou ao fim, e que grande história ela foi.