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Polêmica com Deyverson resolvida nos bastidores e ex-pedreiro herói: a história da maior zebra da Copa do Brasil 3b6v16

O São Raimundo (RR) foi a principal surpresa da primeira fase da Copa do Brasil ao vencer e eliminar por 4 a 3 o Cuiabá, da Série A do Campeonato Brasileiro, na quarta-feira (22).

O jogo também ficou marcado pelas provocações de Deyverson, ex-Palmeiras, aos jogadores do time de Roraima quando o time do Mato Grosso empatou o duelo em 3 a 3.

"Deyverson foi para cima do Allan, que havia feito dois gols. Vi os jogadores em cima do Deyverson, que falou: 'Você vai morrer aqui nesse futebol'. Ele disse que não jogaria em lugar nenhum. Mostrou a tatuagem da Libertadores e tudo mais. O garoto não reagiu, não falou nada. Ele ficou calado e os outros jogadores se revoltaram", explicou o técnico do São Raimundo-RR, Chiquinho Viana, em entrevista ao ESPN.com.br.

Ironicamente, Allan fez o gol que deu a vitória ao time roraimense poucos minutos depois. Após o lance, os jogadores da equipe da região Norte do país cercaram Deyverson e rebateram as provocações.

Segundo o meia Tavinho, do São Raimundo, o jogador do Cuiabá teria ido ao vestiário adversário e pedido desculpas. No entanto, a história não acabou nisso.

Durante a comemoração em uma churrascaria, Tavinho gravou um vídeo no qual desabafou sobre a situação e criticou o comportamento do atacante ex-Palmeiras.

"Mandei um vídeo pelo calor do jogo em um grupo de amigos pessoais. Não sei se por maldade ou por não ter noção, ele acabou viralizando. No dia seguinte, recebi várias mensagens e estava em vários veículos de comunicação", disse o meia à ESPN.

"A provocação aconteceu, ele tem esse lado folclórico e irreverente. Ele não fez nada de diferente. É algo normal do jogo. Muita gente me atacou dizendo que estava de 'mimimi' ou pegando gancho em cima do nome dele. Não quero meu nome ligado a um caso que possa prejudicar um colega de profissão. Eu sei que o futebol tem isso, é uma tática para tentar tirar a concentração", acrescentou Tavinho.

O atleta também demonstrou arrependimento pelo vídeo.

"Aproveito o espaço para me desculpar com o Deyverson, se de alguma forma isso está gerando algum transtorno ou está sendo atacado. Eu recebi mensagens de ódio e acredito que ele também. Não quero pegar gancho em ninguém para me promover, quero ficar conhecido pelo que faço no campo", disse.

O meia afirma que mandou mensagem para Deyverson no Instagram, mas obteve uma resposta da assessoria do atleta.

"Eles falaram que não estava legal para a imagem dele e pediram para fazer um vídeo se retratando. Não tive a intenção de atacá-lo porque não sabia que tinha vazado. Acredito que esteja tudo em paz e espero que tudo fique bem", afirmou o meia.

Quem é Tavinho? 2rz10

Aos 30 anos, Wanderson Otavio Pereira Campos, conhecido como Tavinho, é natural de Santarém, no Pará. Ele ou pela base de times do Rio de Janeiro como América, Bangu e Duque de Caxias. Depois, se profissionalizou na Polônia, mas não conseguiu ter suceso.

"Foi muito duro. Sofri racismo, a cultura era diferente e não dominava o idioma. Precisei fazer cursos on-line para me manter. ei pela mão de empresários que agiram de má fé comigo e ei dificuldades financeiras e até fome", desabafou o jogador.

"Voltei ao Brasil sem perspectivas, mas meu pai me incentivou de novo e voltei a jogar. Ano ado foi muito ruim porque me machuquei e voltei para casa, mas meu pai adoeceu e tive que abrir mão de contratos para ficar em casa dando e para a família. Ele morreu há dois meses e eu cheguei a largar o futebol porque não aguentava mais".

Quando ia cuidar do mercadinho da família, Tavinho recebeu um convite para voltar ao São Raimundo. Mesmo estando bem abaixo na parte física e técnica pelo pouco tempo de preparação, o meia foi para o jogo porque o titular foi afastado do jogo.

"Nós conseguimos algo que ninguém esperava. Jogamos contra um clube da Série A, nós sabemos que a diferença é muito grande. Eles tinham um ritmo de jogo muito forte e essa foi a nossa primeira partida no ano, estávamos longe das condições ideais. Era praticamente impossível vencermos".

"Foi um divisor de águas porque tivemos um hat-trick do Allan, que é zagueiro e não iria para o jogo. Um estava suspenso e o outro não tomou a vacina contra a COVID. Eu mesmo não iria para o jogo, mas o meia foi afastado e entrei em cima da hora mesmo sem condições físicas".

"A gente quer tentar um lugar ao sol porque vivemos o lado b da bola. É uma realidade bem diferente do que as pessoas pensam. Queremos avançar o máximo possível na Copa do Brasil, subir da Série D do Brasileiro e ir bem no Estadual, que começa daqui um mês. Queremos alçar voos mais altos e dar uma estabilidade para a minha família e honrar o nome do meu pai".

Herói pedreiro 4f1k1f

O grande herói da classificação do São Raimundo, o zagueiro Allan, autor de três gols, estava desempregado até pouco tempo atrás.

"O Allan não estava fisicamente 100% porque estava trabalhando como auxiliar de pedreiro no Rio. Eu falei para ele: 'O futebol em Roraima é mais intenso. Nós reconhecemos a nossa inferioridade. Mas tem um virtude sua que vou aproveitar. Você agride e bola e antecipa a visão do adversário'", disse Chiquinho Viana.

"Nós treinamos muito isso, mas o último chute dele foi o espirito santo (risos). Ele bateu do ladinho do pé", confessou o treinador.