O Real Madrid comandado por José Mourinho e o Barcelona treinado por Pep Guardiola protagonizaram o auge da rivalidade entre as equipes no começo desta década. Um dos auxiliares do Special One no clube merengue no período, José Morais viu de perto os anos mais tensos com disputas dentro e fora de campo.
"Nós chegamos ao Real Madrid na época do auge do Barcelona do Guardiola que só dava porrada em todo mundo e ninguém ganhava deles. Nossa equipe tinha falta de liderança e o Mourinho fez a diferença na construção da equipe. Ela teve mais disciplina, organização e começou a mudar e assimilar os conceitos. O grupo ficou mais responsável e isso fez a diferença", disse o atual técnico do Jeonbuk Motors, ao ESPN.com.br.
"No primeiro ano, ganhamos a Copa do Rei, algo que ninguém apostaria. No segundo, vencemos o Campeonato Espanhol com 100 gols e destronamos o Barcelona naquele ano. Tanto é que o Guardiola saiu do Barça pouco depois. Tínhamos uma equipe muito sóbria", analisou.
Morais acredita que as disputas na Espanha iam além das quatro linhas.
"Era uma rivalidade maior entre os clubes do que com o Guardiola. Depois dos jogos havia um certo respeito. O Barcelona era um rival não só dentro de campo, mas fora também. Alguns jogadores do Barcelona defendiam questões políticas da independência da Catalunha. Algumas situações criam esta rivalidade para além do futebol", confessou.
"Às vezes íamos do hotel ao estádio [Camp Nou] e tinha umas guerrinhas da polícia de nos fazerem dar uma volta maior ao invés de ir pelo caminho mais direto. Até eles eram contra a gente, queriam fazer algo só para nos chatear (risos)", recordou.
Talvez uma das maiores derrotas da equipe merengue ocorreu fora de campo.
"Nós tentamos naquela época contratar o Neymar ao Real Madrid. Ele foi um jogador que acabamos por não conseguir que tinha um potencial incrível. Creio se tivesse ido para o Real Madrid naquele ano provavelmente teria já teria nesse ano uma história diferente em termos de carreira. Uma história mais consistente e provavelmente mais estável com a influência do Mourinho", analisou.
Neymar acertou com o Barcelona e foi para o Camp Nou em 2013, no qual venceu todos os títulos possíveis antes de se transferir ao PSG, em 2017, por 222 milhões de euros. Até hoje, a maior transferência da história do futebol mundial.
Ronaldo, Pepe e Marcelo... 186162
Nos tempos em que trabalhou no Real Madrid, José Morais se encantou com as proporções do time merengue.
"É um clube de história grandiosa, o maior do mundo. Onde você vai arrasta multidões e é diferente. Não deve ter no mundo algo assim", contou, .
Morais conviveu de perto com o astro Cristiano Ronaldo.
"Eu já conhecia o Ronaldo das categorias de base do Sporting quando eu era treinador do Benfica. Ele já era um jogador que fazia a diferença e tinha muita qualidade. Ronaldo é um cara amigo dos amigos. É muito trabalhador e uma máquina, tem uma grande capacidade de entrega ao jogo. É um jogador que você pode sempre contar porque a qualquer momento pode decidir. Tem muito caráter e determinação. Tem objetivos próprios de ser sempre o melhor e faz a diferença para os times porque faz gols".
O antigo auxiliar de Mourinho também se dava muito bem com os brasileiros do elenco.
"O Marcelo e o Pepe eram muito engraçados e positivos. Tinham ótimas atitudes para o elenco", elogiou.
Carreira 6o6q5b
Nascido em Angola, José Manuel Ferreira de Morais fez carreira como jogador em clube de Portugal. Depois, ou a ser trabalhar das categorias de base do Benfica e virou treinador da equipe B. Foi assistente no time principal do técnico alemão Jupp Heynckes e de José Mourinho, no começo dos anos 2000.
"A partir daí, minha carreira progrediu. Como um dos auxiliares eu tinha que analisar os adversários e dava treinos de campo. Me identificava muito com o pensamento do Mourinho eu organizava meu trabalho para que os jogadores estivessem preparados para os jogos. Fazia vídeos, trabalhos gráficos e de análise", explicou.
Depois, José treinou equipes na Tunísia, Arábia Saudita, Portugal, até voltar a trabalhar como auxiliar de Mourinho - no lugar de André Villas-Boas - na Inter de Milão, em 2009. Ele seguiu o português por Real Madrid e Chelsea.
Em 2014, retomou a carreira para comandar Antalyaspor, AEK, Barnsley e Karpaty antes de assumir o Jeonbuk Motors, da Coreia do Sul.
"O convite surgiu a partir do meu agente que é o Pierre Fernandes nos contatos que tem no mundo todo. Ele me trouxe essa propostas que poderia ser muito boa para minha carreira. O melhor clube da Coreia e um dos maiores da Ásia. É muito respeitado no continente. Tive total confiança em fazer um bom trabalho".
Na equipe, ele trabalha com os brasileiros Adriano Michael Jackson (ex-atacante do Palmeiras), Tiago Alves e Ricardo Lopes. A equipe é a segunda colocada na Liga Coreana e disputa a Liga dos Campeões da Ásia.
"Uma vez o Adriano fez um gol conta o Urawa no finalzinho da partida e deu um inho da música "Bad" (risos). Nós ganhamos o jogo!", contou.