A lista dos principais artilheiros do futebol europeu na temporada tem um brasileiro como "intruso". Aos 23 anos, Ramires aparece em terceiro lugar na disputa pela Chuteira de Ouro, superando nomes como Erling Haaland (Manchester City) e Harry Kane (Bayern de Munique).
Atualmente no Riga, da Letônia, o atacante brasileiro ostenta nada menos que 25 gols em 28 jogos e tem 25 pontos na premiação, três a menos que o líder Robert Lewandowski. Ramires, inclusive, balançou as redes mais vezes que o polonês do Barcelona, mas o gol marcado em LALIGA tem um peso maior do que no Campeonato da Letônia (confira aqui como é a contagem dos pontos pela Chuteira de Ouro).

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"É uma vitória estar entre esses nomes. Estou muito feliz, é uma fase encantadora para mim. Fiquei muito emocionado, chorei muito, compartilhei com meus familiares quando fiquei sabendo da notícia. É uma vitória não só para mim, mas para a minha família", disse Ramires em entrevista à ESPN.com.br.
Família essa que foi essencial para que o garoto do interior de São Paulo conseguisse realizar o sonho de ser um jogador de futebol. Nascido em Olímpia, Ramires viu seus pais abrirem mão de muita coisa para levá-lo até São José do Rio Preto (cerca de 55 km de distância), onde tudo começou.
"Como todo moleque que veio da favela, tive muitas dificuldades. Meus pais tiveram que vender muita coisa de casa para pagar viagem, gasolina para poder viajar. Já foi vendido bujão de gás, as coisas de pescas do meu pai. Fizeram muitas rifas, pedimos dinheiro na casa dos outros, agem na rodoviária. amos muita fome também", lembrou o atacante.
"Tudo o eles fizeram por mim me dá força hoje", completou.
A carreira
Com agem pelas categorias de base dos rivais América-SP e Rio Preto-SP, Ramires ganhou destaque em 2019, ao defender o Osasco Audax na Copa São Paulo de Futebol Júnior. Na campanha que levou o time até as oitavas de final, o atacante marcou cinco gols em seis jogos e chamou a atenção do Fluminense.
No mesmo ano, Ramires foi emprestado para a base do Tricolor das Laranjeiras e chegou a atuar com Luiz Henrique, hoje destaque do Botafogo. Sem ser aproveitado, retornou ao Audax, onde ficou até ser emprestado ao Red Bull Brasil em 2021.
As boas atuações na Série A2 do Paulista levaram Ramires para a Ponte Preta em 2022. Na Macaca, disputou apenas cinco jogos na Série B do Brasileiro. Afastado pelo então técnico Hélio dos Anjos, o atacante recebeu uma proposta do Akitas Chlorakas, do Chipre. Foi aí que começou a sua trajetória no futebol europeu.
"Chegando no Chipre tive 15 jogos, três gols e algumas assistências. O dono, que tem outros clubes no mundo, gostou muito de mim e me comprou direto do Audax, me levando para o Riga, da Letônia. No primeiro ano sofri muito com a adaptação do frio, porque aqui sempre está nevando. O verão faz 15 graus", contou o brasileiro, que, ao menos, não teve problemas com idioma. "Cheguei na Letônia já fluente em inglês. Até traduzo para os moleques que chegaram da Espanha, da Argentina".
Sem conseguir deslanchar em um dos candidatos ao título da Liga Letã, o brasileiro foi emprestado ao Auda, que é do mesmo dono do Riga. Lá, foi treinado por Filipe Almeida, auxiliar técnico de Vitor Pereira no Corinthians. A comissão técnica era toda portuguesa e isso ajudou na adaptação de Ramires, que marcou 25 gols em 35 jogos.
"Eu sabia que ele (Filipe Almeida) tinha muita experiência, no Porto, no Galatasaray, no Corinthians... Então sabia que ia aprender muito com ele. Reduzi meu salário para jogar com ele, pegar experiência, sabedoria dentro de campo. Amadureci muito e seis meses depois que ele sai do Auda eu volto para o Riga, mais experiente e assumindo a titularidade do time", destacou o atacante, que tem 12 gols em 14 jogos no seu retorno ao Riga.
Inspirações
Apesar do alto número de gols, Ramires diz ser um "atacante versátil". Não é à toa que se inspira em ex-jogadores de diferentes características, como Adriano Imperador, Romário, Ronaldo e Luis Fabiano. Atualmente, tem Gabigol como "espelho". A comemoração dos gols, aliás, é igual a do ídolo do Flamengo.
"Como a gente é da geração 2001, Adriano Imperador, Romário, Ronaldo e Luis Fabiano são os que mais me inspiram como centroavante. Tem também Ricardo Oliveira e Gabigol, que é um cara que faço a comemoração igual a ele, gosto do estilo de jogo provocativo e principalmente dos seus gols. É um dos caras que me inspiram", revelou o atacante.
Estar entre os líderes da Chuteira de Ouro deixou Ramires em evidência e atraiu olhares de outros clubes europeus. Com contrato até o fim da próxima temporada, ele já avisou que não deseja renovar.
A tendência, então, é que seja negociado na janela de transferências de janeiro. Até lá, o foco será manter a boa média de gols para seguir uma grata surpresa entre os artilheiros do Velho Continente.