Como virou habitual nos últimos torneios do futebol de seleções, basta a Bélgica se despedir da competição para surgirem os questionamentos e ironias à geração mais talentosa de jogadores da história do país.
A mentalidade de como muitos encaram o futebol esquece sempre que só uma equipe vence ao final. E no futebol de seleções há menos oportunidades ainda para se levantar uma taça – no caso dos belgas, somente Copa do Mundo, Eurocopa e, mais recentemente, a Uefa Nations League.
Se não ganhou em duas oportunidades a cada quatro anos, é fracasso. Tal mentalidade contribui para a desvalorização e até desrespeito a diversos jogadores de carreiras estabelecidas no mais alto nível.
É loucura achar que essa geração belga não foi dourada pelo fato de não ter levantado uma grande taça. Ser terceiro colocado de uma Copa do Mundo de forma inédita e com vitórias sobre o Brasil e Inglaterra (duas vezes, inclusive), é um feito tremendo.
Além disso, a Bélgica conseguiu uma classificação às quartas de final em 2014, a melhor campanha até então desde o quarto lugar em 1986. Também alcançou as quartas nas Euros de 2016 e 2020, sendo que não ia tão longe desde o vice em 1980. Na Nations League, sempre esteve na elite e disputou o Final Four em 2021. Tudo isso fez com que o país ocue o topo do ranking da Fifa por um bom tempo.
Não se pode ignorar o fato de que as campanhas vieram após um período da seleção no ostracismo, não tendo disputado as Copas de 2006 e 2010 e as Euros de 2004, 2008 e 2012.
A geração fez de Jan Vertonghen, Axel Witsel, Toby Alderweireld, Eden Hazard, Romelu Lukaku, Dries Mertes, Kevin de Bruyne e Thibaut Courtois como os únicos oito jogadores a arem de 100 jogos pela seleção. Lukaku ainda é o maior artilheiro da seleção com 85 gols, com uma vantagem de mais de 50 gols para o segundo na lista, que é Hazard.
É insensato pensar que a ausência de títulos cause um descaso a todos esses feitos e rotule essa geração como decepcionante. Só porque a Bélgica teve a maior safra de talentos em sua história, não significa que um troféu fosse obrigação, até porque outros países também tiveram gerações talentosas, como muito bem lembrou De Bruyne.
Brasil, França, Argentina, Alemanha, Itália, Inglaterra... a concorrência sempre foi forte. Portugal ganhou uma Euro e também dispõe da maior quantidade de talentos simultâneos em sua história.
É verdade que isso não impede que haja críticas e questionamentos à última década dos belgas. Marc Wilmots, por exemplo, não soube extrair o melhor de sua seleção em meio à primeira fase da ‘geração de ouro’, e a Copa do Mundo de 2022 foi tremendamente frustrante por conta de toda crise vivida dentro e fora do campo.
No entanto, é uma tremenda injustiça falar em fracasso ou pensar que a seleção belga dos últimos dez anos não foi bem-sucedida simplesmente pelo fato de não ter alcançado uma final de Eurocopa ou Copa do Mundo.
Próximo jogo da Bélgica 5i92b
Israel (C) - 6/9 - 15h45 (de Brasília) - Uefa Nations League