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A história de rivalidade com a Juventus que dono bilionário ignorou e causou revolta na torcida da Fiorentina k641g

Clubes se enfrentam nesta quarta-feira, pela primeira partida da semifinal da Copa da Itália, em mais um capítulo de uma rivalidade amarga 2h6k1


A maioria dos clubes na Itália se consideram grandes rivais da Juventus por alguma injustiça histórica. Todos têm a história de um "roubo" contra eles pelos Bianconeri no ado, embora poucos sejam considerados tão pessoais, prejudiciais e cruéis como os da Fiorentina.

Os dois times se enfrentam nesta quarta-feira (2), no Estádio Artemio Franchi, em Florença, pela primeira partida da semifinal da Copa da Itália. O jogo começa às 17h (de Brasília) e terá transmissão ao vivo pela ESPN no Star+.

Embora os torcedores da Juve também itam que não gostam da Viola, esta é geralmente uma rivalidade muito desequilibrada, na qual um lado toma e o outro é sempre obrigado a ceder. A Fiorentina conquistou 10 grandes troféus em sua história, a mais recente em 2001, enquanto a Juve ganhou a mesma quantidade da taças somente nos últimos seis anos.

A última mágoa veio em janeiro, quando Dusan Vlahovic, principal jogador da Fiorentina – e alvo de vários dos maiores clubes da Europa – optou por uma transferência para Turim em detrimento à Premier League. A mudança veio apenas 18 meses depois que Federico Chiesa, uma das estrelas do triunfo da Itália na Eurocopa 2020, também pulou o muro – e três anos antes, Federico Bernardeschi, outro membro da Azzurra, fez a mesma escolha.

Rocco Commisso, proprietário da Fiorentina nos Estados Unidos, foi alvo de fortes críticas dos torcedores por seu papel na saída de Vlahovic para a Juve, com uma faixa dos ultras que retratava Commisso como um palhaço da famosa Ponte Vecchio de Florença.

Commisso chegou prometendo fazer grandes mudanças, com os torcedores da Fiorentina abertamente frustrados com seus antecessores, os pouco ambiciosos irmãos Delle Valle. Entretanto, desde sua chegada, Commisso apenas “supervisionou” as transferências das duas principais superestrelas do clube para seus grandes rivais.

É difícil dizer exatamente quando esta rivalidade histórica começou, mas muitos apontam para a raiva da Fiorentina diante das circunstâncias que permitiram à Juve levá-los ao título da Serie A no último dia da temporada de 1981/82.

Muito antes do escândalo Calciopoli de 2006 (onde a Juventus foi rebaixada após ser considerada culpada de tentar escolher e influenciar árbitros junto com outros clubes, incluindo a Fiorentina), a ideia de que os árbitros na Itália favoreciam a Juve era predominante na Serie A.

A Fiorentina sentiu que tinha uma forte justificativa quando, com as duas equipes empatadas em pontos na última partida da temporada, teve anulado um gol que considerava perfeitamente legal no empate sem gols com o Cagliari. Enquanto isso, o adversário da Juve naquele dia, Catanzaro, teve um pênalti claro não concedido antes que o gigante de Turim conseguisse uma penalidade mais questionável. Liam Brady aproveitou para conquistar o 20º título do campeonato e bordar uma segunda estrela na camisa alvinegra.

Isso, em muitos aspectos, preparou o cenário para o que viria a acontecer apenas oito anos depois, em 1990, quando, semanas após a Juve ter vencido a Fiorentina em uma final de Copa da Uefa, o superastro Roberto Baggio foi obrigado a deixar Florença para Turim em um negócio de transferência recorde na época, pelo valor de US$ 10,83 milhões.

Com o crescimento dos rumores de uma mudança para a Juve, Baggio havia deixado claro que essa não era sua escolha preferida. No dia em que a transferência foi oficializada, a manchete da Gazzetta dello Sport foi lida: "Para a Juve à força, não por amor". Enquanto isso, os torcedores se revoltaram nas ruas de Florença, com até 50 feridos relatados, além de nove prisões. O proprietário Flavio Pontello foi forçado a se trancar no estádio Artemio Franchi enquanto os torcedores cobriam a sede do clube com tijolos e coquetéis Molotov.

O retorno de Baggio a Florença em 6 de abril de 1991 foi um momento marcante no futebol italiano, pois ele se recusou a cobrar um pênalti contra seu ex-clube: seu companheiro de equipe Luigi De Agostini bateu e parou na defesa do goleiro Gianmatteo Mareggini. Baggio foi substituído e, ao sair, pegou um cachecol da Fiorentina e usou ao redor do pescoço no banco de reservas. Os torcedores da Juve exigiram uma explicação de Baggio sobre ter se recusado a cobrar o pênalti quando chegaram ao centro de treinamento do clube, e sua justificativa era que ele temia que seu ex-goleiro conhecia seu jeito de cobrar pênaltis muito bem.

Enquanto a Velha Senhora continuou dominando o futebol italiano durante os anos 90, as coisas foram ao contrário para a Fiorentina, que foi declarada falida e deixou brevemente de existir em 2002. Eles renasceram como AFC Fiorentina Viola e recomeçaram na terceira divisão italiana após terem sido comprados pelos magnatas do setor têxtil Diego e Andrea Delle Valle. Em 2004, eles estavam de volta à Serie A e logo se tornaram candidatos regulares a uma vaga na Champions League. Após o rebaixamento da Juventus para a Série B após o escândalo Calciopoli, a Fiorentina conseguiu afastar o interesse da Juve em seus melhores jogadores.

No final dos anos 2000, Stevan Jovetic era o astro da Fiorentina e, poucos dias antes de seu 20º aniversário, ganhou as manchetes com ambos os gols na vitória por 2 a 0 sobre o Liverpool em uma partida do grupo da Liga dos Campeões. Ele também marcou um gol decisivo contra o Sporting para se classificar para a competição e mais dois na vitória de 3 a 2 sobre o Bayern de Munique, nas oitavas de final, que os eliminou por conta dos gols fora de casa.

Enquanto o clube continuava a vender seus melhores jogadores – Jovetic foi para o Manchester City em 2013, apesar do grande interesse da Juventus –, eles pelo menos garantiam que suas estrelas ficassem fora das garras de seus rivais mais odiados. Mas ficou claro no final da década de 2010 que os Delle Valles haviam perdido o entusiasmo, já que a Fiorentina deixou de ser um clube regular da Europa League e se tornou apenas mais um que todos os anos luta contra o rebaixamento.

A posição deles era insustentável quando decidiram deixar o prodígio dos times de base, Bernardeschi, que havia sido comparado a Baggio e até recebeu a famosa camisa número 10, ir para a Juve em 2017 por 40 milhões de euros. Naturalmente, ele marcou em uma vitória por 2 a 0 em seu primeiro jogo de volta em Florença, em meio a uma enxurrada de insultos de uma multidão furiosa em casa.

Commisso comprou o clube por aproximadamente 160 milhões de euros em 2019 e chegou com grandes planos e promessas ambiciosas. Entretanto, enquanto os problemas do clube continuavam – a Fiorentina terminou em 10º e 13º lugar nas duas últimas temporadas, não conseguindo ar das quartas de final da Copa da Itália –, ele cometeu o pecado máximo de despachar dois jogadores importantes para a Juve em um curto espaço de tempo.

Pode ser amargo, mas esta é uma das rivalidades mais unilaterais que você encontrará na Europa. Para a Fiorentina, a semifinal da Copa da Itália desta quarta é mais importante do que a final. Derrubar a Juventus provocaria comemorações descontroladas, festas de rua e avenidas pintadas de violeta. Para a Juventus, seria mais uma partida. Talvez, para ser ainda mais crueldade, uma missão de scouting para futuros alvos de contratação.