Mariana Capra 75d

As mulheres que inspiraram Bia Souza até ouro olímpico e o sonho de ser mãe: 'Me mostraram o valor do trabalho' 212r67

Beatriz Rodrigues de Souza. Beatriz Souza. Ou apenas Bia. Seja no documento, na profissão de judoca ou dentro de casa, uma grande mulher que fez história em Paris ao faturar a medalha de ouro no último jogos olímpicos e teve outras mulheres como inspiração até chegar ao lugar mais alto do pódio. 2o1o3z

No Dia Internacional da Mulher, o ESPN.com.br traz uma entrevista exclusiva com Bia Souza, ícone do esporte brasileiro e que, guiada por diversas mulheres ao longo da sua vida, agora sonha também com a maternidade para aumentar a família após os Jogos Olímpicos de Los Angeles.

Nascida em 20 de maio de 1998, em Itariri, mas sendo criada em Peruíbe, ambos no litoral paulista, Bia teve ao longo da vida diversos exemplos de guerreiras que contribuíram para a consolidação de uma carreira de alto rendimento.

O primeiro contato com o judô veio por influência do pai, o ex-judoca Poseidonio José de Souza Neto. Estava lá a pequena Bia indo assistir a um treino no mesmo local em que seu pai começou.

“Quando eu assisti a primeira vez, eu vi o que era judô, eu me encantei com tudo aquilo e eu falei para o meu pai que eu queria fazer judô, que eu me encontrei ali. ou uma semana e eu já estava de kimono em cima do tatame, e de lá eu não saí mais”, contou Bia, em exclusiva à ESPN.

Mas a força e determinação de Bia vieram com base em muitas mulheres que a cercavam. Isso tanto dentro, quanto fora dos tatames. Diversos exemplos que lá na frente fariam Bia se tornar um ícone do esporte brasileiro.

“Minha mãe, minha avó, minha irmã, são mulheres guerreiríssimas, sempre batalhando, sempre indo atrás do que elas queriam, me mostrando o valor do trabalho e da dedicação”, contou.

No esporte, nomes da velha e nova geração se misturam e se tornaram exemplos para Bia até a consagração em Paris. "Temos a grande Edinanci, uma das pioneiras, a Soraia André, nem se fala o tanto que precisou batalhar para a gente estar podendo andar nos tatames hoje em dia, a Rosicleia Campos. Já começando com as medalhas olímpicas, a Ketleyn Quadros, maravilhosa, a Sarah Menezes, e Mayra Aguiar, que me adotou quando entrei para a seleção sênior”.

“Tenho grandes referências e grandes nomes para me inspirar a vida inteira”, completou.

Como Bia superou a saudade de casa para vencer no judô v5h3f

Aos 15 anos, Bia recebeu um convite para representar o Palmeiras e se mudar para a capital paulista. Esse momento foi o que Bia chama de “divisor de águas”, pois a tirou da casa dos pais e a fez ter que assumir muitas responsabilidades.

“Eu falei assim: ‘eu realmente quero o judô para a minha vida, eu quero construir uma carreira no judô, eu sei que grandes coisas me esperam e eu vou atrás da minha carreira olímpica’”, contou.

E assim foi dado o primeiro o da carreira e, com ele, veio o maior desafio com o qual Bia teve que lidar nesse começo: a saudade da família. “A saudade dos meus pais, diariamente ali comigo, sempre me acompanhando, foi um choque muito grande, eu conseguia resolver tudo, aí de noite eu falava: ‘cadê meus pais, estou com saudade’. A saudade de casa foi o grande primeiro desafio da minha carreira”.

Os estudos também se tornaram um pilar importante no dia a dia da judoca, que conciliava as viagens para competir com as aulas e provas. E Bia contou com amigos e tanto para vencer a dura rotina que todo jovem atleta sofre.

"Eu sempre tive muito apoio de todos os meus amigos de turma, de todos os professores, sempre dava um jeitinho, quando voltava de viagem, pedia o caderno dos amigos emprestado para ver o que eu perdi de anotação, de aula, de explicação”.

Completando quase um ano no clube paulista, a atleta participou de uma seletiva para o Esporte Clube Pinheiros, referência na preparação de atletas de alto rendimento. Aprovada lá atrás, ela permanece vestindo as cores azul, preto e branco até hoje.

No novo clube, ou a dividir o tatame com Rafael Silva, Leandro Guilherme e Thiago Camilo, grandes nomes olímpicos. “Isso foi uma grande inspiração na minha vida, eu queria escrever a minha história assim como eles escreveram a deles”, relatou.

As medalhas começaram a surgir, e Bia venceu uma seletiva olímpica, recebendo a chance de estar nas Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016, como sparring da Maria Suelen.

A primeira experiência no ambiente olímpico fez os olhos da jovem judoca brilharem. A experiência, o contato com o tatame, com os adversários mundialmente reconhecidos e com a torcida ficaram marcados em um espaço especial em sua memória.

No final de 2016, Beatriz se juntou à equipe adulta e ou a viajar para competir pela categoria, somando às suas conquistas títulos de Grand Prix e medalhas em campeonatos mundiais. O ciclo em busca da vaga para os Jogos de Tóquio também foram marcantes na vida da atleta.

Apesar de não ter conseguido carimbar o aporte para a competição, Bia relembra: “Foi algo que me transformou grandemente, porque eu tive um sentimento horrível de não ter ido para a Olimpíada e isso fez com que eu quisesse garantir a vaga para Paris 2024 o mais rápido possível”.

A vaga para os Jogos Olímpicos de Paris 2024 veio e, com ela, a certeza de Bia de que traria uma medalha de volta para casa. “Eu sempre tive uma entrega diária muito grande dentro do tatame, eu fui para Paris muito tranquila de todo o meu trabalho, não só de um ciclo, mas de uma vida inteira. Fui com a sensação de que eu ia trazer um grande resultado, mas foi muito mais do que eu imaginei. Foi mágico conquistar essa medalha de ouro”, relembrou.

Mas quem pensa que o caminho foi fácil, está completamente enganado. Foram muitos obstáculos a serem superados para atingir o seu maior objetivo na França.

“Lesões, treinar com dor, competir machucada, eu sempre soube de tudo o que eu ei e trouxe isso como combustível”.

Mulher, negra, com 1,76cm de altura e 135 kg, Bia conquistou mais do que uma medalha de ouro para o Brasil. Ela levou a diversidade ao lugar mais alto do pódio.

A representatividade carregada por ela mostra que o esporte é um espaço para todos. “Eu tive grandes representatividades dentro do tatame e poder estar nessa posição para mim hoje em dia não é só uma grande responsabilidade, mas é uma grande honra”, disse.

“Quando eu encontro um pai ou uma mãe na rua e falam: ‘meu filho quis começar o judô por sua causa, porque te assistiu nas Olimpíadas’. Sabe quando é aquela sensação de missão cumprida? É muito gratificante você ver que o seu sonho transcendeu tantas barreiras que atingiram o coração de outras crianças, que a partir dali começaram a sonhar também em querer ir para uma Olimpíada, ser também uma campeã olímpica.”

O amor pelo judô transformou a vida de Bia: “O esporte me fez realizar sonhos que eu nunca nem sonhei, nem ava na minha cabeça conhecer tantos países como hoje em dia eu conheço, ter tantas experiências, ter tantas medalhas em casa”.

Futuro além do esporte: o curso de istração e o sonho de ser mãe 6p5v2a

Mas o futuro é duro para grande parte dos atletas que não se preparam para ele. Felizmente, a judoca nunca deixou os estudos de lado. Bia cursa faculdade de istração e, por mais difícil que seja conciliar com os treinos e competições, segue firme de olho nos próximos os de sua carreira fora dos tatames.

"Realizei um grande sonho da minha vida dentro do judô, mas eu não vou fazer judô a vida inteira. Por mais que eu ainda tenha mais um ciclo, eu preciso pensar no pós, preciso trabalhar para ter uma transição de carreira mais tranquila. E isso começa desde já, não posso deixar tudo para resolver lá na frente”.

Bia também projeta outra ambição para o futuro. Um dos seus grandes sonhos é ser mãe: “Por enquanto o foco é total no judô, mas com certeza após o próximo ciclo olímpico eu vou fazer a minha família crescer”.

Esses planos devem esperar mais uns anos, afinal, Los Angeles 2028 é logo ali. E Bia quer buscar mais uma medalha olímpica. “A gente começa tudo do zero e vai construindo essa vaga aos poucos. Vou chegar lá em Los Angeles e se Deus quiser trazer mais uma medalha”, finalizou.

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