Antônio Chamorro, Igor Resende e Matheus Castro 232d

Por que eleição do COB causa polêmica e incomoda Hortência e outros atletas: 'Grande retrocesso' x6s4t

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) elege nesta quinta-feira (3) um novo presidente, em uma eleição sob holofotes por uma polêmica: o atual presidente Paulo Wanderley pode ou não disputar o pleito? 6f1z66

Paulo assumiu o COB em 2017 após a renúncia de Carlos Arthur Nuzman. Depois, venceu as eleições de 2020 da entidade. E agora disputa mais um mandato contra a chapa encabeçada por Marco La Porta, seu ex-vice-presidente, e com Yane Marques como vice.

O problema gira em torno da interpretação desse mandato entre 2017 e 2020. O atual presidente defende que assumiu o COB em 2017 eleito como vice-presidente, em um período de “mandato-tampão” que, de acordo com sua interpretação, não contaria como primeiro mandato.

Quem critica, por sua vez, diz que Paulo estaria concorrendo a uma segunda reeleição, algo proibido por lei e que mostraria um atraso do Comitê Olímpico.

“Nós não somos contra o Paulo Wanderley e não somos contra a gestão do Paulo Wanderley. Nós, atletas, temos que defender a lei", disse Hortência, rainha do basquete brasileiro, em entrevista exclusiva à ESPN. "O que nós defendemos é que isso (3º mandato) seria um grande retrocesso para o esporte brasileiro. A gente volta a ver o Comitê Olímpico, que deveria ser um exemplo, não ter o seu estatuto respeitado”, 

“É contra lei. Existe uma lei, que foi muito lutada pelos atletas, que garante que a gente tenha uma alternância de poder. Que gestores de grandes entidades não ficassem e não se perpetuassem nesse poder por muitos anos. A gente sabe que o histórico do Brasil é um histórico de dirigentes AD aeternum. A gente viu o quanto isso atrapalha o desenvolvimento e a governança do esporte. A gente não quer voltar para trás com algo conquistado”, completou Fernanda Nunes, atleta do remo que competiu nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, também com exclusividade à ESPN.

“Não é que seria um mau exemplo, seria abrir um precedente para que todos eles possam fazer isso depois”, completou Hortência, questionada se presidentes das confederações poderiam seguir esse mesmo caminho.

O que diz a legislação 252r5t

São dois artigos citados por Hortência e pelos críticos para tentar barrar a candidatura de Paulo Wanderley. A Lei Pelé diz que “presidente ou dirigente máximo tenham o mandato de até 4 (quatro) anos, permitida 1 (uma) única recondução”.

Já o estatuto do COB prevê em seu artigo 38 que “presidente e o vice-presidente, eleitos pela Assembleia nos termos do artigo 29, inciso II, terão mandato de 4 (quatro) anos, permitida apenas 1 (uma) recondução, a iniciar-se na primeira quinzena do mês de janeiro do ano seguinte ao da eleição”.

“Não é somente uma questão legal, mas uma questão moral. Hoje o esporte não aceita mais um dirigente ficar 11 anos à frente de uma entidade, que seria o caso se ele ficasse mais quatro”, disse La Porta, candidato nas eleições, à ESPN.

A chapa da oposição, porém, promete não alongar a discussão na Justiça.

Presidente se defende 6o685b

A candidatura de Paulo Wanderley foi homologada pela Comissão Eleitoral do COB e recebeu o aval do Conselho de Ética do Comitê Olímpico mesmo com as críticas de ex-atletas. Ele se diz tranquilo quanto ao caso.

“Acredito que estou indo para minha primeira reeleição, tenho convicção disso aí. Agora, esse tema jurídico corresponde a juristas, advogados e tal. Quando a demanda vier e se vier, será dado o tratamento adequado. Não é por mim, mas pela área correspondente”, disse o mandatário em entrevista exclusiva para a ESPN.

Na última segunda (30), porém, o deputado federal Luiz Lima (PL-RJ), ex-atleta olímpico da natação e campeão pan-americano em Winnipeg 1999, protocolou um ofício pedindo um posicionamento do ministro do esporte André Fufuca sobre o caso. E esse cenário todo pode custar aos caixas do COB.

“O mais preocupante é que você pode não receber patrocínio e pode não receber a Lei Agnelo/Piva, que é o dinheiro das loterias, e também a Lei de Incentivo ao Esporte. Então, o Paulo pode até continuar como presidente se ganhar a eleição, mas o governo pode cortar esses benefícios. Aí seria um problema sério para o esporte brasileiro”, desabafou Hortência.

“O atleta sobrevive de ree. Algumas confederações têm esses rees cortados por má gestão e quem a o dinheiro diretamente é o Comitê Olímpico do Brasil. Então, o funcionamento do COB é necessário para o esporte funcionar. Então, o atleta depende dessa verba. Um mês sem verba para o esporte nacional é um risco muito grande”, diz Fernanda Nunes.

A votação está marcada para esta quinta-feira na Assembleia Geral do Comitê Olímpico Brasil. O pleito é composto pelos 34 presidentes das Confederações Olímpicas de Verão e Inverno filiadas ao COB; pelos dois membros brasileiros do Comitê Olímpico Internacional (COI) e por 19 representantes da Comissão de Atletas. A chapa vencedora será a que conseguir a maioria simples dos votos.

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