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Técnico do Chelsea é 'homem das 33 táticas', ex-bancário e fumante estressado que pode ser campeão da Liga Europa 54o2x

Finalista da Liga Europa com o Chelsea, Maurizio Sarri nunca venceu um título importante na carreira e há alguns anos trabalhava em dois turnos, alternando um emprego em um banco com o de treinador de futebol. Quem o conhece bem, porém, garante: o italiano de 60 anos é um dos melhores treinadores do mundo.

É o que assegura Rafael Bondi, revelado pelo Londrina e que atuou em vários clubes do futebol italiano.

O brasileiro fez uma parceria vencedora com Sarri, atuando sob o comando do treinador por quatro temporadas em três times diferentes, ajudando o comandante a virar o "rei do o" nas divisões inferiores.

"No início da carreira, ele trabalhava no banco [Monte dei Paschi, o mais antigo do mundo em atividade] de manhã e treinava times nas 6ª e na 7ª divisão da Itália na parte da tarde. Aí ele ganhou três campeonatos um atrás do outro e levou um time praticamente amador à Série C2 [4ª divisão italiana]. Nessa época, ele pediu demissão do banco e foi trabalhar só com futebol", conta o meia brasileiro, em entrevista ao ESPN.com.br.

A saída do banco, onde Sarri trabalhava como promotor financeiro, aconteceu quando ele trocou o Tegoleto pelo Sansovino, na virada de 1999 para 2000. Ficou na equipe por três anos, ando depois por Sangiovannese, Pescara, Arezzo, Avellino, Verona, Perugia, Grosetto, Alessandria e Sorrento antes de chegar ao Empoli, em 2012.

Nos três anos em que comandou a equipe azul, bateu na trave para conseguir o o à elite na primeira temporada, mas não decepcionou na segunda chance. Com uma campanha quase perfeita (e um futebol vistoso), subiu para a Serie A com um 2º lugar na Serie B. Em sua estreia na elite, foi bem mais uma vez, mantendo a pequena equipe da Toscana na primeira divisão.

Seu bom trabalho chamou a atenção do Napoli, que o contratou em 2015. E já em sua primeira temporada no clube celeste, fez ótima campanha, ameaçando o poder da Juventus e terminando como vice-campeão do Italiano 2015/16. Tudo isso com um time muito equilibrado, que jogava bonito, marcando 80 gols e levando só 32 em 38 jogos.

No ano seguinte, terminou na 3ª posição. Ainda ficou na 2ª colocação na penúltima temporada, brigando pelo título italiano até o fim. Contratado pelo Chelsea no meio de 2018, Sarri levou os Blues à terceira posição da Premier League (conseguindo uma vaga na Champions League).

Além disso, pode vencer nesta quarta-feira a Liga Europa contra o rival Arsenal e conquistar o primeiro título de expressão na carreira, nesta quarta-feira.

O HOMEM DAS 33 TÁTICAS 11506q

Segundo Rafael Bondi, Maurizio Sarri é conhecido por um apelido peculiar, devido à sua expertise tanto na montagem do time quanto no estudo da equipe adversária.

"Eu trabalhei com ele no Arezzo, na Alessandria e no Sorrento e sempre aprendi muito. Na Itália, ele é chamado de 'Homem das 33 táticas', porque ele tem jogada ensaiada para tudo. Até para lateral!", conta o atacante brasileiro, que revela até os "disfarces" usados.

"Ele tem jogada para tudo que você imaginar: lateral, saída de defesa, transição meio-ataque, para tudo! Do jeito que o cobrador do lateral pegava na bola você já sabia onde ele ia jogar. O Sarri também coloca os nomes dos roupeiros e dos massagistas nas jogadas ensaiadas, aí quando alguém grita 'fulano' você se prepara para o lance", revela.

Sarri se notabilizou pelas jogadas ensaiadas (inclusive de lateral) e o exaustivo estudo dos rivais.

"Ele é um ótimo treinador, muito preparado, que estuda muito os adversários. Ele conhece todos os jogadores rivais nos mínimos detalhes. Quando você entra em campo com o Sarri, você sabe exatamente o que vai fazer em cada minuto do jogo, e sempre fica preparado para cada situação que aparecer no decorrer", elogia.

O brasileiro, aliás, diz que não se surpreende com o sucesso recente de Sarri.

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"O crescimento dele não foi rápido, porque ele ficou muitos anos se preparando nas categorias inferiores, mas batalhou muito em Serie C2, Serie C, Serie B... Quando o Empoli o contratou é que foi o salto na carreira para algo maior", ressalta Rafael Bondi.

"Uma vez que ele chegou à Seria A eu sabia que seria para ficar. Se nas categorias inferiores ele já fazia grandes trabalhos com material de menor qualidade, sabia que ele ia arrebentar quando tivesse um elenco legal na elite. E foi o que aconteceu", completa.

FUMANTE, ESTRESSADO E INSONE 1x2d2r

Filho de um operador de guindastes, Maurizio Sarri tentou ser jogador de futebol quando jovem, mas, sem tanto talento, ficou apenas em categorias amadoras. Preferiu se dedicar aos estudos e acabou indo trabalhar com finanças no banco, ao mesmo tempo em que usava seu amor pelo esporte para treinar pequenos clubes da Toscana.

Dos tempos de promotor financeiro, levou boa parte dos hábitos para o campo de futebol, mesmo quando pediu demissão do Monte dei Paschi. Uma de suas principais características é o temperamento bastante estressado e impaciente - parte disso fruto da insônia que lhe acompanha.

Além disso, Sarri é fumante compulsivo, muitas vezes acendendo cigarros até mesmo na beira do gramado.

"Cara, ele é bem estressado. Fuma muito, parece uma chaminé. E tem umas olheiras... Tem dia que nem dorme", cita Rafael Bondi, dizendo que, apesar de tudo, o comandante desempenha seu trabalho como poucos: "Taticamente, ele é o melhor com quem eu trabalhei, principalmente parte defensiva".

Na Inglaterra, Sarri tem sofrido bastante por não poder exercer seu hábito de fumar no banco de reservas. Desde 2006, existe uma lei que proíbe o consumo de cigarro em ambientes públicos, como os estádios de futebol.

O italiano já foi flagrado com um pedaço da parte final do cigarro na boca, onde fica o filtro ou mascando chicletes.

O brasileiro também salienta que, apesar de nervoso, o técnico é ótimo comunicador.

"Ele tem uma capacidade para falar com os jogadores que é coisa de louco. Ele estudou até as estratégias de comunicação do (Barack) Obama [ex-presidente dos Estados Unidos]. Ele estudava muito os modos que os grandes líderes usam para se comunicar, a dialética, os gestos, os modos... É um grandíssimo orador", relata o ex-Londrina.

A personalidade nervosa, porém, acabou jogando contra em janeiro de 2016, quando Sarri trocou insultos com Roberto Mancini, então comandante da Inter de Milão, durante jogo da Copa da Itália. Após a partida, Mancini acusou Sarri de ter proferido insultos homofóbicos. O técnico do Napoli acabaria punido em 20 mil euros (R$ 68,8 mil), levando também um gancho de dois jogos no Italiano por "insultos ao treinador rival".

Bondi ainda conta que Maurizio Sarri tem ódio de chuteiras coloridas, e chegou até a barrar seus jogadores de usá-las quando ainda treinava times menores antes do Napoli.

"No começo da carreira, ele exigia que todos pintassem as chuteiras de preto, não queria coloridas de jeito nenhum. Ele dizia que isso era um aspecto muito comercial e que não gostava, pois distraía dos jogadores. Com o tempo ele acabou mudando, mas já vi muito cara não jogar porque se recusou a pintar a chuteira", diverte-se Rafael, uma das "vítimas".

"Teve um time em que trabalhamos juntos que ele pediu para o roupeiro pintar todas as chuteiras. Teve jogador até que levou multa do patrocinador depois", encerra.