As histórias de Andrés D'Alessandro, River Plate e Internacional voltarão a se cruzar nesta quarta-feira, em partida válida pela Copa Libertadores. Recuperado de um edema muscular, o meia vestirá a camisa colorada contra a equipe que o revelou, e, de certa forma, foi a responsável por sua ida ao Beira-Rio. 5k164k
"Eu sempre acompanhei muito o futebol argentino. Achava o D’Alessandro um craque desde quando ele se destacou no River e nas seleções de base. Era quase um novo Maradona, canhoto e tinha temperamento forte. Cheguei uma vez a vê-lo em campo quando fui ear em Buenos Aires em um jogo contra o Vélez (Sarsfield), mas a arquibancada do Monumental era muito alta, estava atrás do gol e mal conseguia vê-lo (risos)", disse Fernando Carvalho, ex-presidente do Internacional, ao ESPN.com.br.
Em 2003, o jogador foi para a Europa, onde atuou por Wolfsburg-ALE, Portsmouth-ING e Zaragoza-ESP. Em 2008, a equipe espanhola o emprestou para o San Lorenzo-ARG. No dia 8 de maio, o argentino entraria definitivamente no radar do Internacional após uma partida brilhante contra o River Plate pelas oitavas de final da Libertadores no Monumental de Nuñez
"Depois, ele ou por várias equipes e o perdi um pouco do radar. Um dia, vi o D’Alessandro como protagonista, jogando demais, mesmo com o time dele perdendo por 2 a 0. Eles estavam com dois jogadores a menos e ele batia escanteio, falta... Eles empataram depois em 2 a 2 e se classificaram. O D'Ale foi o grande nome daquele jogo", recordou Carvalho, que ava férias em Punta del Este, no Uruguai.
"Quando eu voltei ao Inter [como vice-presidente de futebol], pensei: 'D’Alessandro no San Lorenzo? Ele poderia estar no Inter!’ Mas a ideia ficou só no pensamento. Pouco tempo depois, contratamos o Tite e uma das posições que ele nos pediu era de um meia. Um empresário, que tem ligações com futebol argentino, me ofereceu um jogador, mas recusei. Eu disse: 'Me traga um jogador bom, tipo o D’Alessandro, por exemplo. Ele é um craque de bola, está jogando no San Lorenzo'. Uma semana depois, ele trouxe uma carta do empresário do D'Alessandro que o autorizava a ser o representante exclusivo", afirmou.
Fernando Carvalho viajou para Buenos Aires e teve uma conversa bastante franca com o meia.
"Falei como era o clube, as pretensões que tínhamos para ele e as nossas regras. Abordamos com o D’Alessandro sobre a fama de ser uma pessoa de relacionamento difícil e desagregador. Ele me respondeu: ‘Eu sou profissional. Se as pessoas cumprirem comigo, eu cumpro rigorosamente tudo que combinei. Mas vou te cobrar o que foi combinado e vamos nos dar bem'. Ele foi receptivo desde o começo", contou.
Segundo o ex-dirigente, a parte que envolvia o jogador foi fácil. As maiores dificuldades envolveram outras partes do acordo. Foram cerca de 20 dias de intensas negociações, com diversas viagens para Buenos Aires e para Espanha, até que o martelo fosse batido.
"O problema é que o Zaragoza era detentor de 50% dos direitos dele e tinha um grande empresário argentino, Marcelo Tinelli, torcedor do San Lorenzo, que tinha a outra metade. A gente tinha que comprar as duas partes, mas havia um prazo para que o empresário comprasse do Zagaroza. A negociação foi muito difícil porque eles exigiam garantias e não tínhamos dinheiro à vista. Precisamos de ajuda do Delcir Sonda não só para colocar dinheiro, mas para dar as garantias", relatou.
Assim que o negócio foi concluído, o Internacional divulgou a contratação de D'Alessandro em 22 de julho de 2008, por cerca de 7 milhões de dólares.
'Grande profissional' 131r41
Quando chegou a Porto Alegre, o meia - que estava com 27 anos - foi recepcionado por muitos torcedores colorados no aeroporto.
"Ele estreou em um Gre-Nal que nós empatamos. No clássico seguinte, cerca de um mês depois, ele foi o principal jogador e vencemos por 4 a 1. Ele fez um gol e participou dos outros três. Ai, virou um grande ídolo", recordou.
No Beira-Rio, o meia faturou Libertadores (2010), Copa Sul-Americana (2008), Recopa Sul-Americana (2011), Copa Suruga (2009), Campeonato Gaúcho (2009, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015) e Recopa Gaúcha (2016 e 2017). Já são 430 jogos oficiais e 91 gols marcados.
"Eu tenho muita gratidão por tudo que ele fez e fico muito orgulhoso de ter participado disso junto com outras pessoas. Tive muita sorte nisso. Junto com o Figueroa, ele é o estrangeiro mais importante da história do clube. Não só pelos títulos que conquistou, mas pelo que representa para o time", elogiou.
Desde então, seu único período fora do Beira-Rio foi justamente um empréstimo de alguns meses ao River Plate, em 2016. Apesar disso, Fernando Carvalho acredita que o meia não terá problemas para enfrentar seu antigo clube.
"Eu observei o D’Alessandro em um jogo contra o River em que ele foi o melhor em campo. Tenho certeza que não vai tirar o pé, será o velho D’Alessandro de sempre, mesmo sendo contra o time do coração dele. Hoje, ele tem dois clubes: um que ele nasceu torcendo e outro que aprendeu a amar. Acredito que se ele estivesse contra nós jogaria da mesma maneira por ser um grande profissional", finalizou.
A partida acontece no Estádio Beira-Rio, pela terceira rodada do Grupo A da Libertadores. O time colorado lidera a chave com seis pontos.