Em um mundo onde muitas mulheres se calam por medo, Macarena Sánchez optou por fazer diferente. A jogadora argentina de 27 anos está processando o seu ex-clube Uai Urquiza e a Federação Argentina de Futebol por conta da desigualdade entre o futebol masculino e feminino.
“Estamos em um ambiente que nos despreza e exclui diariamente. Uma grande parte da sociedade acredita que mulheres não são capazes de jogar futebol e que não devemos exercer nosso direito de praticá-lo”, disse em entrevista ao The Guardian.
A sede pela revolução está, inclusive, estampada na pele de ‘Maca’, que tem Frida Kahlo tatuada no antebraço: “Eu realmente gosto da luta dela, em um momento da história em que a sociedade era muito mais difícil do que agora, onde a mulher não conseguia nem levantar a voz, ela sabia como colocar sua arte e seus ideais em primeiro lugar e ganhar um lugar em um ambiente ‘de macho’”, afirmou a atacante sobre Frida.
Dejen de ver con ORGULLO a una jugadora que labura, entrena y estudia. No debe ser tomada como un EJEMPLO A SEGUIR por hacer triple esfuerzo. No está bueno tener que levantarse a las 7 y volver a tu casa a las 11 de la noche. Dejen de romantizar la precarización.
— Maca Sánchez (@Macasanchezj) 2 de fevereiro de 2019
Maca se mudou para Buenos Aires em 2012, para jogar com a equipe do Uai Urquiza, uma das melhores equipes femininas da Argentina, que esteve na Libertadores no ano ado, no Brasil. A equipe masculina, porém, está na terceira divisão e, ainda com essa disparidade, os homens saem na frente.
“É frustrante. Eles têm melhores salários, condições e podem viver sendo jogadores de futebol. Nós, infelizmente, não podemos. Temos melhores resultados, mais campeonatos e disputamos inclusive torneios internacionais, mas somos vistas como inferiores por sermos mulher”, desabafou.
Durante as viagens que fez com a equipe durante o ano, ela recebia cerca de 40 reais mensais e afirmou que o tratamento é claramente diferente, as instalações da equipe ruins e as condições de treino péssimas, além de não ter materiais necessários para se desenvolverem profissionalmente, mas reconheceu que em comparação aos outros clubes argentinos, elas têm uma condição melhor.
“Muitos clubes cobram das jogadoras uma taxa mensal para jogar. Outros clubes não cobrem nem necessidades básicas para poder treinar (...) alguns jogadores tiveram que pagar por roupas de treino, materiais, comida, ambulância, polícia, médico...”, disse Maca, lembrando que ambulância, polícia e médico são três itens obrigatórios pela federação e devem ser cobertos pelo clube. A jogadora acrescentou também que muitos clubes não cobrem lesões ou tratamento para jogadoras se recuperarem.
O objetivo dela é colocar as duas equipes no mesmo patamar. Para Maca, o fato de a Argentina sempre violar direitos das mulheres é interligado com o medo que as pessoas têm de que elas ocupem lugares que geralmente são dos homens. “Acho que o clube não quer nosso reconhecimento profissional porque incomoda uma mulher ocupando lugares historicamente ocupados por homens. O pensamento ‘machista’ das pessoas de poder é a única coisa que impede a profissionalização”, diz.
Maca criou coragem de denunciar o clube e a federação porque, no meio da temporada, foi dispensada pelo Uai Urquiza. Como as contratações só podem ser feitas no final da temporada, ela ficou sem time para jogar daqui para frente. “Precisamos parar de sofrer esse abuso diário pelos clubes e pela AFA”, disse Maca sobre a Associação Argentina de Futebol. Ela também afirmou que as mulheres devem ter o direito de fazer parte da Associação de Futebolistas da Argentina.
Ela afirmou ter recebido apoio de muitos jogadores, movimentos feministas, clubes e grupos de mulheres trabalhadoras. “Foi muito comovente porque nestes casos, é muito importante sentir-se acompanhada. Não é fácil para uma mulher reivindicar seus direitos na frente de grandes entidades poderosas. É essencial sentir que não estou sozinha”, concluiu.
Após sete anos no Uai Urquiza, Maca agora está buscando reconhecimento e não é por questão de dinheiro. Para ela, a maior compensação seria que a federação reconheça seu pedido e que as mulheres em a ser reconhecidas como jogadoras profissionais e finaliza: “Caso eu tenha uma compensação financeira, certamente darei parte do dinheiro para o desenvolvimento do futebol feminino em meu país”.